Os pensionistas que não descontaram....
Não me pareceu descabido o que ele disse. Aliás, é recorrente na nossa vida política ver estes temas debatidos.
Quem não se lembra da pornográfica pensão de Mira Amaral pela sua breve passagem pela CGD? quem não se lembra de outros casos igualmente infames que são debatidos nos dias a seguir à publicação de um qualquer artigo de jornal para depois caírem no esquecimento mais completo?
Passos Coelho referia-se a isto. Referia-se ao desnível que existe entre pessoas com uma carreira contributiva de uma vida e a uns quantos que por terem exercido funções de gestor nomeado ou exercido um cargo político qualquer.
Deputados incluídos. Há muita gente a receber pensões consideráveis por ter estado dois mandatos na assembleia da república. São centenas de deputados nesta situação.
Muitos outros terão depois exercido cargos políticos e de "gestão" que ainda os colocaram num patamar de reforma superior.
Não é aceitável que um gestor público receba uma pensão de reforma enquanto se encontra no activo a receber um salário. É esse o caso de Mira Amaral e de muitos outros. Recebem a pensão como "funcionários públicos" e depois passam a trabalhar para o privado. Dois mundos paralelos. A situação perfeita.
Não é de todo difícil para a Segurança Social apurar quem está apenas a receber a pensão e aqueles que ainda estão a receber um salário integral no sector privado.
Não é difícil implementar uma norma em que se isso acontece, a pensão do Estado fica suspensa até à cessação da actividade. Pode ser aos 70, aos 80 ou na idade que for.
No fim, teria de ser apurada a carreira contributiva destas pessoas e recalcular a pensão a receber. Simples.
O que é óbvio é que apesar de estas pessoas poderem assegurar calmamente a sua subsistência a trabalhar no privado em cargos muito bem pagos, ainda recebem um bónus do Estado por terem estado 1 ano ou algo de parecido a ajudar a falir uma qualquer empresa pública.
Se não lhes compensar deixar de receber a pensão do Estado pelo que vão receber pela actividade no privado, então não o façam. A vida está cheia de escolhas e eles também terão de fazer as suas.
É uma imoralidade, para quem vê as suas pensões de miséria ser cortadas e recortadas, ter de assistir a este esbulho da coisa pública sem nada poder fazer e sem que ninguém faça absolutamente nada para corrigir estas assimetrias..
O que mais espanta não é ouvir esta coisas de um 1º ministro. Elas são voz corrente. O que é estranho é ver a CGTP e os camaradas da oposição insurgirem-se contra este tipo de afirmações.
Aqueles que passaram a vida a apontar estes escândalos vêm agora defender directa ou indirectamente estas situações.
Claro que Passos fala de forma genérica. Podemos adivinhar no seu discurso quem é que é visado.
Arménio fala também de forma genérica. E podemos adivinhar porque o faz sem retirar da sua defesa os casos indefensáveis.
Na sanha oposicionista de ser contra tudo o que diz o Governo e o 1º Ministro, Arménio acaba a defender aquilo que sempre criticou.
Podem dizer que essas pessoas têm direito ao que recebem porque as regras eram assim quando se "reformaram". De acordo. O princípio da não rectro actividade da lei é vital.
O problema é que nestes casos chocantes foram excepções à regra. Feitas à medida de gente amiga que tinha o peso e a influência para negociar situações de excepção absolutamente injustificáveis.
Mas como tudo ficava entre amigos o princípio de "uma mão lava a outra" aplicou-se centenas de vezes.
A não acumulação de reformas parece-me algo da mais elementar justeza, mas até Cavaco Silva manifestou o seu desagrado quando isso lhe tocou a ele.
Não nos admiremos portanto que os 1% ou 2% a quem este discurso é dirigido comecem a resfolegar de raiva quando percebem que os seus rendimentos estão debaixo da mira.
O que é inesperado para eles é terem a esquerda mais radical a defendê-los apenas porque têm mesmo de contrariar tudo o que o governo e o 1º ministro dizem.
Quem diria que íamos ver Mira Amaral defendido pelo camarada Arménio?