Tudo na mesma... mas, ainda assim, tudo diferente

Nós somos um país em que todos reconhecem que deve haver enormes mudanças. Mas essas mudanças são sempre em coisas que não nos afectam directamente ou que se mudarem nos trazem algumas vantagens.

A reforma das freguesias está em cima da mesa.

Note-se que se trata de reformular aquilo que é a organização territorial de Portugal que vem do tempo dos carros de bois.

É de esperar que num país que mudou consideravelmente nos últimos anos, haja situações em que a existência de certas freguesias seja injustificada.
Não só porque a demografia mudou, como mudou a acessibilidade de forma radical. Freguesias que tinham milhares de habitantes desertificaram-se e as freguesias urbanas, onde a influência das câmaras municipais é maior aumentaram demograficamente de forma muito sensível.

As razões invocadas para a existência deste número de freguesias urbanas vai desde a "a freguesia onde nasci" até outras tão patéticas como o facto de "darem apoio às populações".

É caso para perguntar o que é que uma junta de freguesia faz que uma autarquia não faça. Se deixarem de lhe chamar Junta de Freguesia e lhe chamarem Serviços Camarários xpto o que é que muda? Porque razão tem de haver a multidão de lugares electivos numa cidade, com os seus próprios funcionários e as suas próprias ineficiências de funcionamento? E claro está, a depender do orçamento da autarquia. Porquê? Por uma questão de "identidade"?

Este tipo de raciocínio faria muito mais sentido nas freguesias rurais. A sede da autarquia pode estar, e está na maior parte das vezes a algumas dezenas de quilómetros de distância. No entanto são os que menos contestam a medida porque reconhecem na maior parte das vezes que não têm nem o orçamento que precisavam nem os munícipes (fregueses?) de outrora.

O organismo que agremia todas as freguesias pedem a suspensão da lei. Pede efectivamente que fique tudo na mesma. Que fiquemos com uma organização territorial do século passado.

Esta é a segunda versão da polémica ridícula acerca destes temas. Foram-se embora os Governos Civis e nada de grave se passou. Ficavam com um parte das multas e davam apoios aos bombeiros e afins. Os bombeiros deixaram de ter apoio? As receitas das multas perdem-se no ar? Alguém deixou de poder tirar o passaporte?

Quando estas coisas acontecem parece que a única gente que reclama activamente são os próprios interessados. Não me admira nada. O que já me admira é haver parolos arregimentados a fazer marchas lentas porque a sua freguesia (pela qual tanto lutaram) se vai perder.
Lutar por uma freguesia? Mas esta gente pensa que está no século 18 ou 19 na altura das rivalidades entre aldeia que davam porrada da grossa? Que espécie de país de dementes é que nós produzimos ao longo dos anos?

Quando se fala em poupança todos dizem que é insignificante. Mas de insignificância em insignificância vão-se somando os milhões que não temos. Ou melhor, que nos tiram nos impostos para pagar a divida acrescida de juros que foi gasta nestas insignificâncias todas somadas e na roubalheira adicional.

Se fossemos somar a insignificância do gasto supérfluo das  freguesias, dos governos civis, das fundações e dos demais organismos inúteis que este Estado mantém há décadas ficaríamos com um número notável.

Mas como ninguém acha que deve ser alvo de sacrifícios e todos acham que devem ser sempre os outros a pagar os custos da crise acabaríamos tal como começamos.

Dou graças a Deus por terem vindo uns senhores de fora com um saco cheio de dinheiro e nos tenham forçado a fazer alguma coisa. Porque se fosse por vontade política ou por necessidade de mudança não mexíamos uma palha.

Este país é um país de gente completamente avessa a alterações. Sempre fomos um país a raiar a desgraça e esta gente persiste em ficar como está.