Mitos modernos - A ilegitimidade do Governo

É curioso como num regime "supostamente" democrático ainda há uma parte do espectro político que acha que a legitimidade eleitoral só existe se forem eles os eleitos.

E isto é cíclico. Desde 1995 que o PS esteve no poder 15 anos. Durante esse período destruiu-se com um enorme sentido de irresponsabilidade a possibilidade de Portugal se aproximar da média Europeia.

Apesar do dinheiro que entrou a rodos, os nossos fantásticos gestores conseguiram criar um tal aumento de despesa que não era possível em 2011 que Portugal vivesse sem dinheiro emprestado de emergência.
Os custos com a saúde dispararam, os custos com a educação dispararam e a Segurança Social começou a mostrar sinais preocupantes de falta de sustentabilidade.

Fizeram-se obras públicas em regime de parceria com contratos absolutamente ruinosos para o Estado e que hoje é mais ou menos consensual que não faziam assim tanta falta.
Apesar dum breve período do PSD com Durão Barroso, o período haveria de ficar célebre pelo discurso da tanga. Afinal. como tinha razão Durão Barroso. E como foi olimpicamente ignorado, talzvez pela sua fuga cobarde e interesseira para lugares mais altos.

Quem veio a seguir a ele, pela mão de um Presidente "de alguns portugueses" e dum senhor economista que fazia contas de deficit  em previsão com precisão às centésimas, fez ainda muito pior.
Ignorante em praticamente todas as matérias rodeou-se de gente mais disposta a agradar do que a dizer as coisas como elas são. Não é por acaso que Campos e Cunha esteve brevemente no lugar, certamente não concordando com um papel de mero fantoche nas mãos de Sócrates.
Para isso haveria de ser escolhido Teixeira dos Santos. Por muito professor e por muitos pergaminhos que tenha, ficará para sempre no Hall of Fame dos infames pela sua falta de coluna dorsal e por ter deixado chegar o país a um ponto sem retorno.

A gestão socialista caracterizava-se por varrer problemas para debaixo do tapete. Desorçamentar desavergonhadamente com o beneplácito da UE. Que apenas fingia que fiscalizava as contas.
Em tempos de abundância não se fazem perguntas difíceis. Mas em tempo de vacas magras já foram capazes de rever sucessivamente em alta alguns dos deficits mais vergonhosos que um governo PS alguma vez produziu.
A crise internacional é a desculpa oficial dessa gentalha. A crise e o chumbo do PEC IV. Essa é a "narrativa" do PS de hoje.

Dizem bem que os partidos não ganham eleições. São os governos que as perdem. E neste país quando existir um governo que tente por as coisas direitas irá sempre perder as eleições.
Porque por as coisas direitas significa ajustar desequilíbrios enormes criados ao longo de quase 40 anos.
O que importa que haja cada vez menos alunos e se mantenham professores? O que interessa que a Segurança Social seja insustentável pelo cada vez menor número de gente a trabalhar para sustentar os pensionistas?
O PS no seu discurso intrinsecamente mentiroso diz defender estas coisas quando sabe que não tem outro remédio senão resolvê-las. E para as resolver só há uma maneira. Reduzir os funcionários públicos e reduzir as pensões. Se isso não acontecer só há uma forma de sustentar tudo isto: aumentar os impostos. Mas é o mesmo PS que diz que a carga fiscal deve descer.
Já se sabe que quando chegar a hora irão ver qual das medidas causa menos impopularidade. A subida de impostas desagrada a mais gente que a redução de funcionários. E uma redução superior às aposentações, que não conseguem de forma nenhuma chegar em tempo útil aos números necessários para o equilíbrio.

E convenhamos que na administração pública há milhares de pessoas que não sabem sequer o que é trabalhar. Por ali andam anos a fia, faltando, cumprindo rigorosamente a hora de saída e de entrada e deixando para os colegas a carga de trabalho que lhes competia. Vistas bem as coisas haverá pelo menos uns bons 20% de funcionários públicos que terão muita dificuldade em justificar o que ganham.

Mas nestas vacas sagradas não se pode mexer. Estas vacas sagradas estão constitucionalmente protegidas contra despedimentos. Sejam eles maus como a ferrugem ou francamente incompetentes.
É um lobby demasiado poderoso para um Governo enfrentar.

E é por isso que quando um governo pretende mexer naquilo que precisa de ser mexido saltam todos a terreiro invocar falta de legitimidade.
E perante a incapacidade de fazer alguma coisa que muitos portugueses dão consigo a desejar que esta democracia vá para o raio que a parta. A desejar que pudesse aparecer alguém com mão de ferro a fazer aquilo que tem de ser feito. Para que o país possa ser minimamente viável.

Claro que há formas de tornar o país sustentável. Bastaria para isso denunciar contratos abusivos e accionar judicialmente os responsáveis pela bandalheira a que se assistiu durante estes 39 anos de democracia.
A despesa do Estado cresceu a níveis insustentáveis porque existe gente a mamar em todo o lado.
São as empresas "amigas" que estão sempre à espera do contrato do Estado, são as artes e a cultura que não existem a não ser para ficar com uma fatia do bolo, são os escritórios de advogados que cobram milhões para fazer contratos "furados" que deveriam ser feitos pelos juristas que os ministérios têm nos seus quadros. São as consultoras que fazem "estudos" até para saber se vale a pena ter máquinas de café nos serviços.

Se cortassem toda esta gordura inacreditável sobrariam milhões por ano para gastar naquilo em que deve ser gasto. Se se livrassem dos pequenos e grandes corruptos no seio do Estado (e no poder autárquico em particular) o estado português não teria deficits. O drama é que os partidos precisam de agradar a estas clientelas para se perpetuar no poder. O mal parece ser, portanto, desta democracia que mais não é que uma ilusão de democracia para servir alguns com a coisa pública.

Se algum governo tem legitimidade para actuar é este. Foi eleito em maioria e com a intenção de reformar um estado em situação de ruptura. Pouco me importa que Passos tenha dito que não ia mexer no subsídio de Natal. Já mo levou e já não penso mais nisso. Mas se olharmos essas afirmações para dizermos que um governo não tem legitimidade, então não há um governo desde o 25 de Abril que se possa considerar legítimo.
A legitimidade advém do voto. E este governo teve esse voto. Teve o voto de muita gente que desejava ver-se livre do Sócrates e da sua pandilha de incompetentes. Teve o voto daqueles que acham o PS completamente incapaz de gerir um país. Ou incapaz de assumir as suas responsabilidades inventando "narrativas" elaboradas para se isentar de culpas.
A legitimidade deste governo advém da necessidade absoluta de termos alguém que governo sem o olho nas eleições seguintes. Alguém que governe equilibrando as contas do país e fazendo-nos sair deste atoleiro corrupto e fétido em que o PS tornou este país.

Soares já cá não vai andar muito tempo. Mas a memória do que ele fez e que agora esquece vai perdurar. Ele foi o primeiro de muitos socialistas aldrabões e incompetentes que este país já viu. Este que está em funções parece ser ainda mais incompetente e incapaz do que os que o precederam. Uma verdadeira calamidade.
E desenganem-se aqueles que pensam que Seguro alguma vez chega a primeiro ministro. Será substituído por um qualquer palhaço socialista com sede de poder. A questão que se colocará nas próximas eleições é quem vai enfrentar Passos Coelho. Não é se Seguro é mais capaz que Passos Coelho. Seguro será erradicado do PS e então veremos se não temos um digno sucessor da linha socratista a arriscar-se a ser 1º ministro. Aí sim a questão da legitimidade terá de se por.

Mas até lá muita água vai passar debaixo da ponte e mais vale esperar sentado para ver o que acontece.
Para já as contas públicas estão francamente em melhor estado do que estavam em 2011. Para já Portugal não está na situação em que a oposição gosta de fazer acreditar que está.
Se a solução não vier de dentro, não esperem que  a Europa nos salve por solidariedade.