Quem chora não mama

O sector da construção civil está de rastos.
Talvez porque tenham feito em 10 anos o que deviam ter feito em 20 ou porque andaram a vender a preços altamente inflaccionados e esqueceram-se de se precaver para uma situação de crise e secura de recursos.

Mas o que mais me choca nisto tudo é a crença enraizada neste sector que sem investimento público não há sector.
É mais ou menos o que se passa em muitas outras áreas da nossa economia e sociedade. Sem o estado gastar (ou dar) dinheiro, não há cultura, não há indústria, não há construção.

Até compreendo que o Estado faça contratos que envolvam a construção de infraestructuras, mas o que se passa neste país é que há uma enorme percentagem do sector que vive exclusivamente do dinheiro que o estado gasta.

Durante uns bons 15 anos contruiu-se em todo o lado e foi vendido a preços de tal forma disparatados que enterraram milhares de famílias. Tudo com o conluio dos bancos.
Que financiavam a compra do terreno, a construção dos edifícios e a compra dos apartamentos.

Isso acabou pela simples razão de termos stock de casas a mais. Ninguém com dois dedos de testa se vai por a construir habitação nos dias que correm.
Junte-se a isto a inexistência de contratos para a criação de infraestruturas públicas e vemos um sector absolutamente de rastos.

Mesmo aqueles que construiam escritórios estarão por esta altura com a corda na garganta. Ninguém arrenda espaços e a procura dos mesmos decresce a cada dia que passa. E como estes "senhores" não estão nada habituados à lei do mercado, continuam a querer vender a preços de 2006-2007.

É uma tristeza ver até que ponto nos transformamos numa pseudo economia de mercado. Na realidade se não for o dinheiro do contribuinte a sustentar ganhos enormes para o sector, não existe sector.

Como aconteceu outras áreas antes deles a única coisa que lhes resta é adaptarem-se. Aconteceu com os texteis, aconteceu com o calçado.

Façam-se à vida e evoluam em função do mérito das suas opções. Creio que neste país não será provável que se fabriquem esquis. Porque não há procura... Se calhar é boa altura de parar de construir... porque não há procura.
E em vez de passarem a vida a pedir aos bancos que emprestem dinheiro capacitem-se que nem os bancos vão emprestar como antes nem as pessoas têm a confiança que lhes permite atirar-se de cabeça para compromissos a 30-35 anos.
Talvez seja boa ideia deixarem-se de choradinhos e perceberem que se não há contratos do estado pode ser a altura de partir para outros mercados ou fechar as portas.

Mas por favor parem de clamar pelo gasto do dinheiro dos contribuintes. Temos um país completamente farto destes lamentos que mais não revelam a total dependência dos dinheiros públicos e a tentativa desavergonhada de desrespeitar as leis do mercado que tanto gostam de louvar.