A cara do empreendedorismo

Anda por aí um rapaz chamado Miguel Gonçalves que é agora o rosto do empreendedorismo jovem.
Foi uma escolha de Relvas mesmo antes de desaparecer de cena e tornou-se mediático depois de aparecer no Prós e Contras falando de uma forma pouco usual, para ser delicado.

Quando ouvi o rapaz falar pela primeira vez pareceu-me um vendedor de banha da cobra. Tout court.

Há um misto de boçalidade e espertice escondida naquele sotaque deliberadamente exagerado. A linguagem é demasiado simplória para ser credível. E foi isso que me fez impressão.

O que ele diz é absolutamente básico. Mas di-lo de uma forma que parece que todos nós só dependemos de nós. O que não é de todo verdade.

Quando ele fala que um jovem numa entrevista de emprego tem de chegar e apresentar as suas ideias para melhorar o "negócio" do potencial empregador parece-me que estará a condenar muitos jovens a sair sem qualquer emprego dessa entrevista.

Como veria um indivíduo nos seus 40 um tipo nos 20 que vai para um primeiro emprego, entrar-lhe pela porta a propor maneiras de melhorar o negócio no qual trabalha há quase 20 anos?
Neste país o que é que vocês acham? Alguém sem experiência, provavelmente com um conhecimento básico (ou nenhum) de como a empresa do potencial empregador funciona, propor ideias para dar "valor acrescentado" à coisa?

Não é muito provável, ou sequer credível, que uma pessoa que acaba de chegar ao mercado de trabalho tenha alguma coisa de palpável a acrescentar a uma empresa estabelecida há décadas. Normalmente precisam de um bom par de anos para aprender o medianamente o negócio.

Ele é como um daqueles motivational speakers que existem às carradas nos US. Funcionam como lideres de "quase seitas" e ganham milhões com os seus livros de auto ajuda e videos de instrução.

Este é a nossa versão portuguesa. E com sotaque" hillbilly". Sotaque que ele exagera ou diminui de acordo com o momento e a audiência. E que apimenta com expressões dignas de figurar na lista das expressões mais imbecis da língua portuguesa.

Quando o vi pensei que ele tinha conseguido os seus 15 minutos de fama. Mas depois ouvi-o na rádio e agora isto.
Não há dúvida que a estratégia dele funciona... para ele.

No meu caso vou ficar na minha. A primeira impressão nunca me enganou e creio que ele não passa de mais um daqueles casos que cai "em graça". É uma espécie de curiosidade que vai andar pelas bocas do mundo até desaparecer de vez.

Mas se me enganar vou ser o primeiro a dar a mão à palmatória. Para já Miguel Gonçalves não passa dum fala barato que vive num mundo das nuvens e que seguramente inventa metade do que diz. Não é nenhum guru com ideias que vão ser a solução para o desemprego jovem deste país.

Se pensarmos bem ele é apenas uma nova versão dos Relvas e dos Seguros e dos "jovens" partidários que à custa de conversa e de cair no goto de alguém acabaram a exercer cargos de demasiada responsabilidade para as suas capacidades.