Um povo com uma memória excepcional

Assisti hoje na SIC Notícias a um entrevistado criticar a falta de memória de Rui Machete.
Estranhava ele que ele tivesse cometido o lapso de não saber ao preço que teria comprado as acções da SLN.

Espanta-me que haja gente que consiga lembrar-se com exactidão de pormenores como este passados 10 anos de terem acontecido. Estranha-me ainda mais quando o país enferma de um problema de memória selectiva e muito poucas vezes correspondente à realidade.

Não me parece descabido pensar que se ele comprou as acções e as vendeu algum tempo depois que nem se lembre, sem consultar documentos, do preço a que foram compradas.

Eu próprio já comprei e vendi acções há muito menos tempo e sem consultar os extractos não faço a a mínima ideia do preço de compra ou do preço de venda. Sei se ganhei ou se perdi, mas não me perguntem exactamente qual o preço de compra  e o preço de venda.
Este é o tipo de coisa que simplesmente ninguém sabe de memória. Muito menos passados dez anos em cima do acontecimento e com papéis que não eram cotados em bolsa.

O que se vê à volta disto é um exemplo perfeito da crítica em qualquer circunstância.
Quando se falou de que ele teria ganho mais de 100% com o negócio não faltaram "indignações" pelo facto. Foi apelidado de bandido, corrupto ou simplesmente vilipendiado por ter ganho dinheiro com o negócio.
Agora que afinal há confirmação que terá comprado as acções ao mesmo preço da FLAD já é criticado pela falta de memória. Memória que ninguém teria em circunstâncias iguais.

Não gosto de Rui Machete. Desagrada-me o facto de ser um dos "permanentes" do regime. Mas desagrada-me ainda mais que se critique sistematicamente alguém não pelos factos mas simplesmente porque se está do outro lado da barricada.

E agora que o argumento dos "ganhos enormes" se foi, suportado com provas documentais, aparece uma critica balofa e sem sentido relativamente à falta de memória. O Público vais mais longe e chama-lhe "desmentir-se a si próprio".

Pois eu acho perfeitamente natural que posto perante a campanha caluniosa de que foi alvo Machete tenha ido confirmar o preço a que comprou e vendeu as acções. Acho perfeitamente natural que não se lembrasse.

O que nos leva ao ponto seguinte e talvez o mais importante desta história.
Foi a comunicação social que avançou o preço de um euro por acção. E confrontado com esse valor e à falta de confirmação Machete aceitou que tivesse sido esse o preço. Mas sabia que tinha sido ao mesmo preço que a FLAD as comprou e foi confirmar se era assim.

As perguntas que ficam são pertinentes:
A comunicação social lança este número de 1 euro com que fundamento?
A que documentação se reportou para lançar este número numa notícia e criar "um caso"?
Como é que a "investigação" levada a cabo pela comunicação social está errada e é desmentida por documentos na posse de Rui Machete?

As respostas serão muito mais fáceis do que possam parecer. Há uma superficialidade no tratamento destas questões que acaba por servir os intuitos da maior parte dos actores da comunicação social. Obtido um detalhe incriminatório param de imediato e usam-no. Não se preocupam minimamente em confirmar. Interessa ruído e o ruído já está feito.
E quando postos perante os factos que desmentem o que publicaram limitam-se a partir para a acusação de falta de coerência, contradição e mais uma vez de insinuar "desonestidade" em todo o processo.

A má qualidade do jornalismo nacional não é de agora. Maus profissionais toldados por sectarismo juntos com outros absolutamente incompetentes e manejáveis produzem este tipo de informação. Exige-se muito mais. Mas eles não têm mais para dar. Talvez por isso a imprensa escrita esteja às portas da morte sem interessados em gastar dinheiro a comprar a porcaria que escrevem. Acrescente-se que têm feito tudo para o merecer.

Se mais provas faltassem da captura dos órgãos de comunicação pela esquerda militante esta seria apenas mais uma prova de que assim é.
Já nem lhes interessa parecer isentos. Já passaram essa barreira há muito tempo. Só lhes interessa mesmo servir os interesses do mestre.