O ministro que Campos e Cunha não quis ser

À medida que se vão sabendo os meandros da nossa gestão em tempos recentes, sabem-se coisas que são claros indícios da forma como as contas eram aldrabadas com a conivência, ou não, dos organismos europeus.

Depois do ataque sem tréguas levado a cabo pelo PS à ministra das finanças e todo o staff do ministério numa tentativa de desacreditar tudo e todos, o PS esqueceu-se que tem demasiada porcaria para poder fazer este tipo de coisas.

Sabe-se agora que o assessor económico de Seguro esteve envolvido na negociação e compra de produtos que de alguma forma poderiam melhorar os números das contas públicas. Ainda assim esses subterfúgios eram perfeitamente aceites pelo Eurostat. O que não quer dizer que não servissem para mascarar a realidade. A mesma dura realidade que nos bateu de frente em 2011 quando a desorçamentação e as estratégias de adiamento de responsabilidades deixaram de ser aceites pela troyka.
Num esclarecimento enviado à Lusa, o anterior governante responde assim a notícias que se seguiram aos documentos distribuídos esta quinta-feira pelo Governo, em que constava um ofício dos assessores económicos de José Sócrates  - Vítor Escária e Óscar Gaspar - a dar conta de propostas do Citigroup e do Barclays de swap que permitiriam reduzir o défice orçamental em 2005.
Os assessores de Sócrates enviaram um ofício ao Ministro Teixeira dos Santos dando conta das propostas feitas pelo Citigroup e pelo Barclays. As tais entidades "malditas" que vendiam este tipo de produtos e que automaticamente transformaram todos os seus trabalhadores em representantes do mal.
Teixeira dos Santos viu o ofício e remeteu-o para outros. Não sem antes fazer uma anotação
Este ofício foi então enviado ao chefe de gabinete de José Sócrates, Luís Patrão, que o reencaminhou para o gabinete de Teixeira dos Santos, que no mesmo escreve “visto, com interesse, à atenção do Exmo. SETF [secretário de Estado do Tesouro e Finanças]”, Carlos Costa Pina. Teixeira dos Santos esclarece agora que esta nota escrita no ofício - na qual diz “visto, com interesse” - não significa de maneira alguma uma concordância do seu gabinete à proposta apresentada.
Como de costume Teixeira dos Santos não é responsável por nada. Nem sequer da apreciação mais aprofundada deste tipo de propostas que remetia para outros.
Aparentemente as propostas não foram aceites e os contratos não foram realizados.
Mas sabemos que outros o foram. E eram muito menos inócuos do que estes que estão debaixo da lupa da comunicação social.
E todos os que foram feitos de forma completamente descontrolada que iam desde a simples protecção de taxa de juro até aos especulativos em que se verificam perdas superiores ao capital seguro eram também de alguma forma responsabilidade do ministério das finanças e do seu ministro.

Que como é óbvio refuta qualquer responsabilidade. Até a de ter o dever de tutelar este tipo de actuações. Na verdade fê-lo (ou o seu ministério fê-lo) emitindo um despacho dando indicações às empresas públicas de fazerem esse tipo de contratos.
Ainda assim Teixeira dirá que a responsabilidade é de um secretário de Estado ou de um funcionário subalterno. Porque Teixeira dos Santos não é responsável por nada.

Tivemos um ministro durante as duas legislaturas de Sócrates (com a excepção dos 3-4 meses de Campos e Cunha) que conseguiu a proeza de não ser responsável de nada de mau que se fez. E não foi pouco.
Mesmo no caso da peregrina nacionalização do BPN acha que procedeu lindamente. Mesmo quando dizia que não ia custar nada aos cidadãos.

Talvez Campos e Cunha tivesse a honorabilidade que falta a Teixeira dos Santos e por isso tivesse saído tão rapidamente. Teixeira dos Santos prestou-se a tudo. Até a ser tratado como alguém portador de doença contagiosa no fim do Governo de Sócrates.
Usado e descartado. Como um vulgar capacho. Se pensarmos bem foi exactamente o papel de capacho que ele exerceu durante 6 anos. E sabemos agora que nem é responsável pela maior parte das decisões que eram tomadas no ministério. Isso era deixado a secretários de estado, administradores de empresas públicas e directores gerais.

Teixeira de cada vez que fala mais se enterra. Mais se percebe como ele era irrelevante na máquina socratina. Era apenas alguém convidado a representar um papel subalterno.
Não é por acaso que no fim do "reinado" de Sócrates o país tinha as finanças no estado calamitoso que sabemos.

Obrigado Teixeira dos Santos. Como ministro passou a ser a bitola mínima de competência e integridade. Depois de si é quase impossível encontrar um ministro das finanças que consiga ser pior.