Os omniscientes

Deparei-me com este artigo na área de economia do sapo.pt. E quando leio uma coisa destas pergunto-me se qualquer curioso escreve agora sobre economia.
É que de repente toda a gente emite opiniões e juízos de valor sobre coisas que parece nunca ter conhecido.
Ainda assim este sempre vai dando uma martelada no prego e outra na parede ao contrário de imbecis como Daniel Oliveira que esboroam a parede toda e nunca acertam no prego. Sim, o mesmo Daniel Oliveira não licenciado à beira de ser mestrado da Lusófona e que de economia deve perceber tanto como eu de paleontologia. Coisa que não o impede de escrever num jornaleco como o Expresso a sua habitual coluna.
Afinal o rapaz precisa de um ganha pão e já se tornou por demais conhecido por escrever e falar do que não sabe e receber uns honorários por isso.

Só que eu acho que o problema se está a generalizar. Vai chegar o dia em que quem sabe dos assuntos nunca é ouvido e seremos apenas servidos por ignorantes a perorar sobre todas as matérias com um ar doutoral.


A culpa pelos ‘swaps’ é sua, caro leitor
29/07/13 00:31 | Bruno Faria Lopes

Os gestores das empresas públicas que contrataram ‘swaps' altamente especulativos argumentam que não havia grande problema nisso. A gestão desses contratos era feita "de perto" e o problema foi que, de repente, o país e as respectivas empresas ficaram sem financiamento.

1. Os gestores das empresas públicas que contrataram ‘swaps' altamente especulativos argumentam que não havia grande problema nisso. A gestão desses contratos era feita "de perto" e o problema foi que, de repente, o país e as respectivas empresas ficaram sem financiamento. Não importa que os gestores estivessem a brincar com o fogo, não importa que estivessem a assinar contratos que não compreendiam. Estava "tudo sob controlo".
Este é precisamente o cerne do problema. Os gestores das empresas públicas têm "brincado" ás empresas desde há muitos anos. Qualquer perda que resulte das suas desvairadas acções é sempre coberta pela receita proporcionada pelos cidadãos. E com isto se vão guindando a lugares cada vez mais altos e de maior responsabilidade no Estado. É assim que se promovem os incompetentes e se expulsam os competentes.
2. As tutelas políticas das empresas públicas - sobretudo as do PS da era de Sócrates - argumentam que não são responsáveis pelo problema dos ‘swaps'. Teixeira dos Santos e Costa Pina lembram que as empresas públicas tinham autonomia total para fazerem o que quisessem na gestão de risco financeiro. Eram outros tempos - um gestor de uma empresa pública endividada podia assinar à vontade com a banca a troco de financiamento. Era legal? Era. Então tudo bem.
A verdade é que os swaps são um instrumento de gestão de risco quantitativo perfeitamente normal. Servem para proteger as empresas (neste caso) de subidas de taxas de juro variáveis. A contraparte do contrato irá fazê-los porque acha que pode beneficiar com a troca de uma taxa fixa por uma variável que espera que ela desça. Para fazer um contrato destes as duas partes têm uma expectativa oposta do que se vai passar com as taxas de juro. Mas a avaliação da evolução das taxas é fundamental, porque senão mesmo um contrato plain vanilla pode acarretar perdas. Não há nenhuma razão para ser ilegal fazer estes contratos. O que há são milhares de razões para controlar a sua contratação. E foi isso que parece ter faltado de forma estrondosa nesta caso. Muito pior do que isso foi ter havido quase uma recomendação da tutela para que as empresas fizessem este tipo de contratos de "swap" que eram tudo menos normais.
3. Quando descobriu que, afinal, não estava tudo bem, a equipa das Finanças no anterior Governo passou a sujeitar os ‘swaps' a um controlo do IGCP. Afinal era possível controlar - nem que seja com um despacho já depois de umas eleições perdidas e muito depois dos avisos da Inspecção-Geral de Finanças, de notícias nos jornais, etc. Porque não se fez nada antes? Argumento: quem podia adivinhar que os juros ficassem tão baixos durante tanto tempo? E quem adivinharia que viria a ‘troika'?
Esta questão do controlo é muito relativa. Aparentemente só quando estava de saída de funções é que fez despachos para saber da real situação no sector empresarial do Estado. Aliás o controlo dependia de informação cedida pelas próprias empresas que, como sabemos, não forneciam.
Poderemos dizer que "havia um processo de controlo". Só que nunca foi encetado. No fundo parecia não haver qualquer controlo.
E se a questão da previsão da queda da taxa se pode invocar no caso dos anteriores a 2008, já não se pode de todo invocar quando a taxa desatou a cair. Quanto à previsão da vinda da troyka, eu que sou pessimista, já adivinhava que ia acabar por acontecer. bastava olhar para o caso grego e perceber até que ponto estávamos na mesma situação.
4. Chega a ‘troika' e cai o ‘rating' para lixo - e a banca aparece à porta das Finanças para exigir garantias sobre os contratos indecentes de ‘swaps' que impingiu às empresas. Maria Luís, já ao leme do Tesouro, toma conta do assunto em Julho de 2011, numa altura em que as perdas potenciais são de 1,6 mil milhões - e demora um ano e meio para começar a negociar com os bancos, numa altura em que as perdas potenciais já ultrapassavam três mil milhões de euros.

5. Porquê tanto tempo? Maria Luís argumenta à comissão de inquérito que o Governo anterior não deu qualquer informação, nem sequer fez referência ao problema e que ela, Maria Luís, teve de "partir do zero". (Não interessa que apenas um mês depois já houvesse um relatório da DGTF a apontar perdas assustadoras - o que interessa é que não disseram nada a Maria Luís no final de Junho sobre um problema conhecido há anos.) 
Em primeiro lugar não foi com a chegada da Troyka que o nosso rating passou a lixo. A troyka veio porque o nosso rating caiu para lixo tornando impossível contrair empréstimos com as taxas de juro que daí resultaram. Alguma cronologia faz sempre jeito sob pena de parecer que esta coisa do tempo é muito relativa nuns casos e muito importante nos outros.

A questão da demora é interessante. Se ela tivesse demorado um ano e meio, isso queria dizer em bom rigor, que a negociação teria começado em Dezembro de 2012 (1 ano = Junho 2012, 1.5 ano Dezembro 2012).
Acontece que só o levantamento de informação dos vários contratos terá levado muito tempo a conseguir. Pela cadeia de contratos e versões de contratos (como ela explicou na Comissão) só foi possível apurar a informação ao fim de um tempo muito razoável. O que quer dizer que só poderia ter começado a negociar com os bancos depois de saber a posição em que estava e ter qualquer coisa para negociar. Ainda assim não sabemos quando começou a negociar com os bancos nem se o fez ao mesmo tempo em todos os casos. Assumir que há um claro ponto 0 na negociação com os bancos é esticar a corda um bom bocado. Sobretudo porque essa informação não está disponível publicamente.
O facto de existir um relatório não será provavelmente a melhor informação para se encetar uma negociação sobre contratos, alguns verdadeiramente complexos, com os bancos. Ter conhecimento que há uns contratos "manhosos" também não é uma boa base de informação para negociar. A não ser que seja a forma como muita gente entende estas coisas neste país - Ir para reuniões serrar presunto e marcar a próxima. Aquilo que eu chamo de pro-inactive management e que parece ser a filosofia de gestão corrente neste país.
6. Perante desmentidos e emails, afinal percebemos que Maria Luís recebeu alguma informação. Mas não chegava. Era preciso mais. A consultora financeira que avaliou os ‘swaps' precisou de um trimestre para avaliar mais de 200 contratos - mas o Tesouro português demorou um ano e meio até começar a "negociar" com a banca, para chegar a um resultado que não implica quaisquer perdas para os bancos. Porquê? O argumento é moral: o Governo actual herdou um "problema complexo" para o qual partiu do zero (não é bem assim, pois não?) e estáa "resolver". O Governo actual é bom e os outros são os "maus". 
Se considerarmos informação um papel que diz que será feito um levantamento sobre todos os contratos e que há alguns que podem apresentar perdas significativas, então concordo.
Se por outro lado considerarmos que a informação prestada era insuficiente e superficial e que dado o conhecimento que a Secretária de Estado tinha do assunto, incompleta e desactualidzada, então teremos de concluir que ter essa informação não seria suficiente para resolver o problema e estaria muito aquém do que se espera de uma transição.
Mais ainda, era tardia uma vez que só foi chegando já com este Governo em funções e após algumas pressões para a obter.
Nada nos leva a crer que se as empresas não tinham respeitado os pedidos feitos por despachos anteriores o iriam fazer de forma diligente com este Governo.
De nada me serve que me digam que "existem contratos problemáticos" se essa informação não for complementada com o nível de detalhe necessário para actuar. Sobretudo saber das clausúlas contratuais em detalhe de forma a poder denunciar esses contratos.
Acresce a isto que alguns destes contratos são regidos por lei que não é portuguesa acrescentando ainda um grau de complexidade à tarefa.
o Governo actual herdou um "problema complexo" para o qual partiu do zero (não é bem assim, pois não?)
Por acaso parece ser  mesmo assim. E isto porque a informação era de tal forma insuficiente que foi preciso fazer um levantamento de TUDO o que envolvia estes contratos. Mais ainda, para uma negociação não basta chegar a uma reunião e dizer "este contrato tem perdas potencias para o Estado de x milhões, Vamos acabar com ele". É preciso haver alguma fundamentação para terminar o contrato e algum acordo. Caso contrário lá vai o caso para tribunal com as perdas a acumular-se entretanto podendo no fim resultar ainda pior para o Estado. Imagino que os dossiers de preparação para estas reuniões não fossem coisa pouca. E envolvem não só os "números" mas também as questões legais. Seguramente que havia equipas jurídicas envolvidas nestas negociações contratuais.
Claro que se nunca tivermos estado numa negociação complexa ou numa reunião séria não saberemos que isto se passa (é assim não é?). Caro que se medirmos a complexidade da vida de todos os outros pela complexidade da "nossa vida" corremos um risco de subavaliar de forma abusiva os problemas de todos os outros (é assim não é?). Mas infelizmente esse é um problema generalizado. A compreensão de que existem tarefas e actividades cujas especificidades nos escapam parece ser mesmo a doença actual do nosso país de omniscientes.
7. No final de tudo isto, o que sobra? De quem é a responsabilidade por perdas efectivas, até aqui, de mil milhões de euros? É sua, caro leitor, é minha. A culpa é nossa. Será esta a conclusão da comissão de inquérito pedida pelo PSD para tramar o PS que agora trama o PSD. E, como a culpa é nossa, somos nós a pagar. Simples, não é?
Entre simples e simplista vai uma distância muito razoável. E este último ponto é tão simplista que até faz doer.
A responsabilidade da avaliação destes contratos é obviamente de quem os fez. Das pessoas nestas empresas que assinaram este tipo de contrato sem terem noção do que estavam fazer ou porque cometeram erros de avaliação gravíssimos . Quer relativamente à evolução da taxa de juro quer relativamente às cláusulas mais gravosas. Se até 2008 se esperava que as taxas subissem, isso já não era verdade depois de 2008. E alguns destes contratos foram feitos em cenários de baixa de taxa de juro evidente.
Para obterem "ganhos" aceitaram (ou pediram) este tipo de produtos com o intuito de se financiar, uma vez que o Governo do Sr. Sócrates pura e simplesmente não pagava as indemnizações compensatórias devidas.
Assim as responsabilidades caem sobre os conselhos de Administração destas empresas (é para isso que eles lá estão) e sobre a tutela que não só nada fez para o evitar como também os empurrou para esta situação faltando às suas obrigações.

Seria de esperar que a resolução destes problemas levasse tempo. E muito tempo. Só quem nunca trabalhou é que pode esperar que as coisas se resolvam de um dia para o outro. Às vezes a simples marcação de uma reunião com 5 pessoas pode demorar uma semana por causa das disponibilidades de agenda de todos. E isto é só um detalhe.
Imagine-se uma pilha de papel de versões de contratos a ter de ser escrutinados por alguém que saiba da matéria multiplicado pelo número de contratos com problemas. Não se faz numa semana certamente.
O que é curioso em tudo isto é sequer querer comparar, pondo ao mesmo nível, a responsabilidade dos loucos que fizeram estes contratos com a de quem teve de resolver os problemas. Porque "demorou muito tempo"...

Este é o tipo de argumentação quase infantil que um partido como o PS pode encontrar para asscar culpas a este governo. Poruqe não tem mais nada a que se agarrar. Mas eles têm com isto intuitos políticos a que deviam ser imunes os cidadãos normais, os jornalistas e até os economistas.
O problema é que um economista de carreira é uma coisa e um gestor que deu em jornalista e que nunca trabalhou em gestão é outra bem diferente.
Nem sequer me parece que possa estar habilitado a falar sobre um tema como estes, longinqua que é a sua passagem pelo curso de gestão em que este tipo de matérias são apenas "afloradas".
Isto parece-se mais com um artigo de opinião que no meio de alguns factos tenta no fim asscar responsabilidades iguais a todos os actores deste caso.
Se mais provas fossem necessárias do desconhecimento do autor acerca destes processos de negociação bastaria ver a sua experiência profissional no Linked In. Jornalista... desde sempre.
Mas como qualquer bom jornalista, porque não apontar aos outros aquilo que seguramente nunca fomos capazes de fazer?
Afinal os jornalistas são neste país a bitola de competência e de rectidão pela qual se julga toda a gente.

Assim só para enquadrar aqui fica um pequeno gráfico da brincadeira que estes "bons rapazes" arranjaram.