A cultura do enxovalho veio para ficar
Voltamos ao tempo do ruído. Amplificado pelas redes sociais, e pela ideia peregrina de comentar notícias de jornal.
O português mostra-se irrefelectido, imediatista e não raras vezes muito mal formado.
Dois episódios ilustram bem este nosso "modo de estar".
A morte de António Borges tem provocado um sem fim de manifestações pessoais próprias de gente sem qualquer respeito e educação. Toldados por uma ideia que têm do homem público, insultam e escrevem coisas dignas de um bom par de chapadas.
O que é mais notável é que este tipo de atitudes tem quase sempre a mesma origem. A esquerda.
Seja por uma questão de educação ou de simples respeito não se assiste a nada parecido com isto quando morrem personagens da esquerda. Lembro-me do caso de Álvaro Cunhal ou mais recentemente do caso de Miguel Portas.
Parece haver uma barreira que alguns não conseguem passar. Os outros, por outro lado, comportam-se como sanguinários sem travões, sem respeito e sem qualquer capacidade de tolerância.
Comportam-se na morte de um economista como se tivesse sido a morte de um genocida. Era uma pessoa competente e disso não pode haver dúvidas. Não são muitos os que conseguem reconhecimento internacional e Borges teve-o.
Por uma questão de respeito básico há que pensar que há uma família que fica sem um pai e sem um marido aos 63 anos. Dói-lhes a eles como dói a qualquer pessoa que perca um ente querido.
Conspurcar os jornais on line e as redes sociais com ódio muita vezes incutido é no mínimo um exemplo de completa falta de humanidade e ausência de princípios morais.
Mas caso não chegasse atiraram-se ainda a Cavaco Silva. Por ter manifestado publicamente pesar pela morte de António Borges. O ódio não tem limites. O amigo do meu inimigo meu inimigo é.
E puseram lado a lado o facto de o PR não ter feito nada semelhante com os bombeiros falecidos.
Como fogo em palha seca a onda de comentários malcriados alastrou.
Apenas para se saber que afinal a presidência da Républica tinha apresentado as condolências às famílias dos bombeiros. Como era quase seguro que o tinha feito.
Estamos num período semelhante ao pós 25 de Abril em que o insulto gratuito passou a ser a forma de vida de muita gente neste país.
Muitos porque ao sentir alguma dificuldade na vida têm de encontrar responsáveis a quem odiar e a quem culpar. Outros apenas para seguir a onda.
A esquerda "tolerante" e "unificadora" é a causa de maior clivagem na nossa sociedade.
O discurso, a atitude e a prática são as mesmas da altura da agitação. Quem vivia um pouco melhor temia ser apontado como fascista. Todos os que tinham um pouco de poder (professores, médicos, juizes, funcionários públicos) viviam o dia a dia à espera que um qualquer revolucionário desbragado se lembrasse que eles existiam e iniciasse a campanha de insulto e difamação.
O melhor nível de vida desde então levou a que muita desta gente que confunde ideiais políticos com inveja se tornasse mais suave.
Hoje voltaram a sair do fundo buraco em que têm vivido, muitos à custa do esforço dos outros, para dar largas à sua omnipresente falta de ... tudo.
Asseguro-vos que dia em que Mário Soares morrer não vão ver o mesmo baixo nível de ruído.
Talvez porque sigam o princípio "se não tens nada de agradável para dizer, cala-te".
É algo que a esquerda devia adoptar como máxima. Talvez assim se conseguisse atingir alguma coisa para o país.
Não é semeando o ódio e a discórdia que chegamos a bom porto. Se chegarmos é "apesar" disso.