Gente de bem

Há uma boa dezena de anos (talvez mais) conheci pessoalmente José Magalhães.

Começava a ter alguma notoriedade porque no meio de uma turba imensa de "tecno ignorantes" tinha descoberto o "browser".

Por esta altura tinha deixado o PCP e integrado a bancada do PS. Além do seu discurso rebuscado e muito pouco típico dos "comunistas", achava que tudo se resolvia com a Internet. Transformou-se no arauto das "novas tecnologias".

Era um tipo desagradável, sobranceiro e, como muitos "intelectuais" bem falantes deste país, tinha a desgraçada tendência para ser condescendente e paternalista no meio de pessoas, que acerca do tema (tecnologia), sabiam muitíssimo mais do que ele.
Extrapolava a sua superioridade tecnológica do parlamento (onde não é difícil convenhamos), para meios em que o mais ignorante na matéria era precisamente ele.

Era o tribuno "digital" como passei a chamar-lhe. Um vazio cheio de si apenas suportado por um discurso um pouco mais elaborado que o normal.

Depois desapareceu por uns tempos vindo a ressurgir com uma casaca nova nas hostes do PS e já com um "lugar" de Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.
Um egocêntrico como ele percebeu rapidamente que não se vive só do discurso. É preciso estar no sitio certo para singrar na vida e o PS era muito mais adequado ao objectivo.

Com Sócrates foi Sec. de Estado Adjunto da Administração Interna e mais recentemente Sec. de Estado da Justiça.

É este génio das tecnologias de informação que está na base da adjudicação à Critical da actualização da aplicação dos tribunais (Citius) para a nova versão (Citius+) por um ajuste directo de 1 milhão de Euros.
Esta empresa de créditos firmados, foi também a que implementou o sistema do cartão do cidadão que falhou tão miseravelmente no dia das eleições presidenciais. Feitas as contas terá sido também por esta altura que J. Magalhães estava no Ministério da Administração Interna.
Mas a implementação foi um "estrondoso sucesso". Foi o director Geral e a sua equipa que estragaram tudo. Não foi?
Façam os vossos juízos...

Foi ele que esteve na base da saída de João Correia do Ministério em Novembro de 2010.


Hoje no Público saiu uma notícia sobre o não pagamento dos duodécimos devidos a João Correia de subsídio e férias e de Natal. Curiosamente são os serviços tutelados por este individuo os responsáveis por este "erro" (será erro?).
Foi a esposa deste indivíduo que viu demolida uma casa construida ilegalmente na Arrábida.

Este convicto "democrata" dizia esta semana numa entrevista com Mário Crespo que não admirava que o Campus da Justiça fosse mais caro que os anteriores edifícios. Afinal estava localizado num dos melhores sítios de Lisboa, quase deixando perceber que os funcionários e magistrados lhe deviam agradecer por estarem numa zona que é "prime rib" em termos imobiliários (palavras do próprio).

O que este génio amante de anglicismos deveria saber e "não sabe", é que os edifícios que são hoje alugados pelo Ministério da Justiça foram concebidos para escritórios. Esquece-se que estavam "encalhados" para aluguer apesar de estarem numa das zonas mais nobres de Lisboa e que nem assim a negociação do seu aluguer terá sido feita como deve ser.
Talvez devesse ser informado que os elevadores são partilhados por magistrados e arguidos, que os gabinetes dos juízes têm paredes de vidro e não há qualquer segurança nesse facto. Que não há sequer coisas simples como um armário para ter os processos perto das salas de audiência.

José Magalhães não sabe muitas coisas. E provavelmente muitas das coisas que sabe fariam corar D. Corleone e far-nos-iam vomitar a nós.

Tenho pena que João Correia tenha pensado que era possível privar com gente do calibre deste indivíduo sem sair lesado. Sem sair zangado e desiludido. Teria bastado algum tempo de relacionamento para perceber como ele funciona. Atrás da conversa mole, por vezes bajuladora, está um tipo impiedoso e sobranceiro.

São elementos como J. Magalhães que vão aos poucos afastando gente de qualidade dos órgãos de poder deixando-o apenas para os demagogos, egocêntricos e incompetentes palavrosos .