Os "eleitos"

Uma das coisas que caracteriza o português é a forma como se verga perante sinais de poder, ou riqueza.

E faz isto, para logo a seguir e pelas costas resmungar entre dentes uns impropérios a quem acabou de se vergar.
Por vezes esta última parte nem acontece, tão habituado está a ter que pôr um título académico antes dum nome, ou a depender dos gestos de boa vontade dos poderosos.

E esta forma de ser, alimenta o ego daqueles que se imaginam um dia a serem tratados por Sr. Ministro, ou por Sr. Doutor em situações completamente fora da esfera profissional em que esses títulos deveriam ser usados.

Os portugueses adoram bajular. E há os que adoram ser bajulados.

Isto vem a propósito de dois casos recentes com dois eméritos socialistas. Na verdade num dos casos ele nem estava presente mas foram os seus "serviçais" que foram os autores da brincadeira.

O 1º caso foi o do sr. Vara. Entrou por um Centro de Atendimento médico passando à frente de toda a gente, entrou pelo gabinete de uma médica e exigiu um atestado médico porque estava cheio de pressa - precisava de apanhar um avião.
Os outros utentes viram isto mas não o impediram. A médica viu isto e não o pôs na ordem e os comentadores de jornal fizeram o que fazem melhor.... comentaram.

Não havia nenhum pai musculado e com mau feitio na fila de espera com a sua criança doente ou um esquizofrénico desvairado por ali que lhe assentasse um pontapé no cu para o fazer voltar à realidade. Foi pena.
No fim, este arremedo de licenciado em Relações Internacionais pela Independente, "defecou" em cima de todos (no sentido figurado) e saiu com o que o levou lá - um atestado.

Na quinta feira a coisa de um certo modo repetiu-se. A uma ambulância em serviço de urgência para atender uma senhora com um enfarte, estava parada num sítio que impedia o trânsito. Foi-lhe ordenado que saísse por um elemento da PSP para que o carro do Sr. Ministro da Justiça pudesse passar. Vazio.
Iam buscar sua Exa. a casa e certamente não havia forma de avisar o sr. Ministro que por uma situação de emergência poderiam demorar um pouco mais.
A PSP diz que isto pode acontecer por um motivo de força maior. Estou seguro que fazer passar o carro do sr. Ministro, sem o sr. Ministro lá dentro é muito mais importante do que o socorro a uma vitima de um enfarte que provavelmente paga impostos que servem para pagar o "merecido" salário do sr. ministro, do seu condutor e demais comitiva. Isto é sem dúvida um motivo de força maior.

O triste disto é que já nem é preciso ir um pomposo dentro do carro. Já basta um condutor e um policia da segurança do pomposo.

E quando li isto lembrei-me de um caso a que assisti há uns anos em Monsanto. Na descida antes do Pina Manique há um semáforo. Esse semáforo estava vermelho e havia uma fila considerável de carros à espera de arrancar. Era noite e Inverno.
Por esses dias havia uns dignitários importantes em Lisboa que se deslocavam para um lado e para o outro cheios de batedores da GNR e filas de carros de segurança.
A dada altura uma comitiva dessas vem a descer Monsanto e depara-se com a fila no semáforo. Sem mais delongas o batedor da frente começa a ultrapassar toda a fila e ao passar por um carro à minha frente que estava um pouco mais chegado ao eixo da via, assenta-lhe uma sapatada na porta do condutor com as suas garbosas botas de montar com esporas

Fiquei estupefacto. A fila arrancou e o condutor parou um pouco mais à frente ao pé da embaixada do México.  Ao passar por ele vi o painel da porta do condutor todo metido a dentro.
Parei, dei-lhe o meu contacto e disse que se precisasse uma testemunha ao apresentar queixa que desse o meu nome. Fui o único que o fez. Ele nunca me ligou nem soube mais do caso. Aquele condutor terá pago o arranjo do bolso dele.

Muito pior do que os donos são os sabujos que fazem tudo para lhes agradar.