2011 - Ano zero?
Mas num arremedo de fúria escrevi vários posts de uma assentada.
As coisas mudaram pouco. O Governo continua numa altura como estas a persistir numa campanha de propaganda, seja com a exibição de valores fantásticos de execução orçamental, seja com a habitual campanha de negação da realidade.
A mensagem resume-se a denegrir a imagem e a competência do líder do maior partido da oposição e a deixar cair judiciosamente na comunicação social pequenas notícias que comprometam alguns dos actores políticos com possibilidades de chegar ao poder.
Este tipo de campanha surda servida a conta gotas visa criar na cabeça das pessoas uma ideia, já muito arreigada, de que todos são iguais e portanto mais vale votar na porcaria que já conhecemos e não arriscar noutro tipo de porcaria.
A questão fundamental é que nada se pode comparar ao que este Partido Socialista e o seu líder fizeram durante 6 anos de poder.
Apesar de eu estar absolutamente crente que não há "santos" em política, neste caso sabemos bem que entre não ser santo e ser um absoluto demónio vai uma diferença considerável.
Cavaco Silva cometeu erros. Disso não há dúvida nenhuma.
Desde os seus tempos como PM em que aceitou toda a espécie de acordos com a CEE que acabaram por destruir completamente o nosso aparelho produtivo, até ao seu mutismo esfíngico como PR, não se pode dizer que ele tenha contribuído muito para retirar os país da situação em que ele está.
A sua visão estrita daquilo que são as suas competências impede-o de se "mexer". Fica-se pelos discursos de circunstância, ora duros ora suaves, sem nunca tomar posições que lesem a "imagem" de um Presidente de todos os Portugueses.
O que eu acho é que o consenso não pode existir entre ladrões e entre os que são roubados. E de uma certa forma é isso que Cavaco pensa que se deve fazer. Com certo tipo de pessoas não há negociação possível.
Com estes governos incompetentes e arrogantes não há qualquer consenso que se possa atingir. Há coisas que têm um valor absoluto e não se compadecem com retóricas e percepções. São como são.
Ele espera que o impossível aconteça. Que um Governo incompetente faça o que é correcto.
Isso seria excelente se estivéssemos a lidar com gente de bem, com alguma honorabilidade e com espírito de serviço.
Mas não estamos. Estamos a lidar com um grupo que teve como única preocupação minar todas as estruturas de poder da sociedade de gente da sua cor independentemente da sua qualidade ou carácter. A máquina que apoia o partido de governo caracteriza-se por um completo alheamento relativamente ao bem comum. Eles visam o seu próprio bem e o seu próprio enriquecimento. O poder pelo poder. O poder como meio de obter riqueza.
O PS caracterizou-se por estar solidário com um líder que lhe deu isto - poder e riqueza. De formas muito pouco claras na maior parte dos casos. Hoje descobrimos que existe todo um exército das sombras que domina as mais diversas estruturas de poder e de decisão em Portugal. E domina-as com um propósito basilar - perpetuar-se nelas.
Não tenho muita dúvida que por força da ajuda externa algumas destas sinecuras tenham de desaparecer. Quem chegar ao poder a seguir irá acabar com outras, provavelmente substituindo os seus detentores por "amigos" seus. Mas também não tenho qualquer dúvida de que a inventiva que os portugueses têm para contornar as regras entre em funcionamento assim que um novo ciclo se inicie.
Seja como for estamos a contrair mais dívidas para pagar dívidas. E teremos de as pagar também.
Mas como fazê-lo num tecido produtivo completamente arruinado e espartilhados por acordos com a UE ou com a abertura de fronteiras?
Quem no seu perfeito juízo vai hoje investir na agricultura ou pescas depois de termos colocado tudo isso no nível 0?
Como é que os privados têm meios de investir em projectos inseguros e potencialmente desastrosos?
Começámos a vender a nossa independência como país quando entramos para a comunidade e aceitamos em troca o dinheiro que entrava. Quando pensámos que podíamos ser um país de terciário a viver de "margem".
Foi aí que demos um enorme tiro no pé.
Houve gente que se aproximou do nível de vida Europeu. Até houve quem o ultrapassasse. O nível de remuneração para certas funções neste país é impossível de conseguir num qualquer país civilizado da Europa.
Só que a maioria perdeu. E perdeu porque o objectivo de quem distribuía a riqueza não era a de a repartir por todos.
Era ficar com a maior fatia para si.
A probabilidade de ter só gente bem formada nos lugares importantes é muito remota. Como já assistimos muitas vezes,os mais insuspeitos quando chegam ao poder transformam-se em criaturas desprezíveis. Num sistema que "recompensa" o ser "esperto" e o ser "sacana", os honestos e impolutos acabam sempre por ser triturados pelo sistema.
Os incapazes não querem gente capaz no seu seio. Isso iria revelar as suas limitações e é muito problemático.
Não precisamos só de uma mudança de pessoas.
Precisamos de uma mudança de mentalidades.
Precisamos que o nosso povo saiba assumir as suas responsabilidades, que re-descubra a honorabilidade, a importância de dar a palavra de honra e de dizer a verdade.
Enquanto isso não acontecer teremos políticos aldrabões, cleptómanos, negligentes e muito muito egocêntricos.
Não é o FMI que pode mudar isto. Somos nós. E eu não vejo que isso mude com um bailout. Somos assim há séculos e a forma de pensar de um povo não se muda da noite para o dia.
Lamento muito dizer que acredito que dentro de alguns anos ainda estaremos pior do que estamos hoje.