Um programa de governo

O PS parece-se com um miúdo à frente dum piano.
Começa por tocar várias teclas mas subitamente há uma cujo som lhe agrada mais. E desata a bater nessa tecla até se cansar e voltar a percorrer o teclado.

O processo repete-se incessantemente até que farto do ruído, ou até que outros fiquem fartos do ruído, para.

Uma das últimas (e o conceito de recente é uma questão do horas) é a falta de um programa de Governo por parte do PSD.

Estranha esta obsessão, uma vez que na oposição ao PS estão pelo menos 4 partidos. Mas há qualquer coisa de mórbido nesta fixação do PS.

Seja então o PSD.

Todos os dias sabemos de mais um buraco desgraçado que se abre neste país desgraçado. A Carris, a REFER, CP etc, o metro do Porto, o pagamento de juros etc etc.

Um sem fim de desgraças que agora aparecem à superfície e que tinham andado escondidas debaixo de sacos de dinheiro que o governo deitava silenciosamente em cima dos problemas.

A dimensão da desgraça não é conhecida de todo. O tribunal de contas não consegue perceber a situação das fundações (e falemos só das dependentes do Estado), a comissão de acompanhamento das PPP's andou a "tentar" saber alguma coisa com o Governo a sonegar informação.

Os exemplos são muitos. E existe a suspeita mais do que fundada que os casos que já existem são graves e de que existem outros de que nem sequer se sabe.

O aparelho de estado está dominado e não vai sair informação acerca da real situação cá para fora antes de um novo governo tomar posse.

Governo esse que tem de fazer um programa baseado em informação que desconhece quase por completo.

Ora se nem o PS consegue saber a dimensão da desgraça, porque muitos dos seus boys são dotados de vontade própria e capazes de fazer frente à tutela, como é que um partido que está há 6 anos fora do poder pode fazer um plano coerente?

Pode quanto muito traçar linhas gerais de orientação. Abster-se de fazer promessas socratinas e garantir que irá falar a verdade ao povo eleitor. Só isso já seria uma melhoria notável.
Mas concordo que não chega. E não é por minha causa ou por causa dos outros portugueses que nunca andaram tão mal informados com tanta informação, mas sim por causa do aproveitamento demagógico que o PS irá fazer da situação.
Quando o PS afirma que os outros partidos (neste caso referiu-se especificamente ao PSD) não estão preparados para governar, sabe isto. Sabe que sonegou a informação que agora vamos recebendo a conta gotas.
E não é por falta de capacidade das pessoas que militam em partidos da oposição. Muito pelo contrário.

Se a fasquia está ao nível de Santos Silva, Alberto Martins, Rui Pereira, Teixeira dos Santos e Isabel Alçada, qualquer macaco amestrado faria melhor. E só precisava de umas refeições de fruta e um ramo onde encostar-se a coçar os ******.
Antes tivéssemos tido uns macacos nesses lugares até agora. Era muito mais divertido e davam menos despesa.

O problema de colocar gente de qualidade nestes lugares reside em dois pontos:
Será que gente com prestígio e saber se sujeita a ser achincalhado permanentemente nestes lugares?
E se mesmo assim aceitar, será que quando chega lá não se depara com uma situação impossível?

Só há uma forma de resolver isto. Um governo com o espectro político mais alargado possível.
Dói-me dizer isto, mas é bem possível que o PS tenha de entrar nessa base alargada. O PCP nunca se comprometerá. Não é um partido de compromissos. É mais um partido de eliminar os problemas do que de resolve-los (se é que me faço entender).

Do Bloco pouco podemos esperar. Tem surfado numa onda de popularidade à custa da sua retórica contestatária, com uma base de apoio jovem e sem memória e sem conhecimento da história (mesmo da mais recente). É o mocinho com os dreadlocks e a roupinha mal amanhada que gosta de espezinhar milheirais, é a mocinha que acabou de ler umas coisas na faculdade acerca de Engels e Marx, é o revolucionário meio anacrónico de 60 anos que gosta da luta de classes (pá!) e é o académico livre pensador, confortável na sua posição universitária e com uma casa cheia de livros.
Não é exactamente o partido de onde se tire uma série de gente de qualidade. Além de Louçã, reconhecido economista, não estou a ver alguém com skills no BE para poder assumir um lugar de secretário de Estado sequer. Vai o senhor que foi médico para a pasta da saúde? O senhor dos suspensórios para os Negócios Estrangeiros? Ou vai o senhor da carapinha para a Justiça?

O único com capacidade para um determinado lugar, nunca teria esse lagar vago. E ainda por cima teria de se render à realidade - o país é mandado de fora e não há cá poder discricionário para ninguém.

Quem resta? Os 3 mais à direita. CDS, PSD e PS.
Com Sócrates? Nem pensar. Quem confiaria mais neste aldrabão profissional fosse para que pasta fosse?
Só pode ser um PS que não tem dado a cara na campanha de propaganda recente. Que possa dizer - Eu nunca disse isso. Um partido expurgado da porcaria que nele tem militado e mandado estes últimos 6 anos.

E aí, o programa do Governo também será dele. Do PS. Vamos lá ver o que é que sai dali.