Previsões e certezas
Pergunto-me como é possível que alguém tenha uma visão tão curta que ache que o povo votante é estúpido a ponto de fazer a mesma asneira 3 vezes.
Se nos reportarmos ao resultado de 2005, o PS teve 45.05% dos votos com 120 mandatos de deputados.
Isto depois de um período de insatisfação ampliado pela "fuga" de Durão Barroso para a UE e de uma apurada campanha de descredibilização do governo anterior.
A ajuda de Vitor Constâncio não foi uma questão de pormenor. A intoxicação com o deficit e a famosa previsão até à centésima ajudaram a cimentar no eleitorado uma necessidade de mudança.
Eleições de 2005
PS - 45.05%
PSD - 28.70%
PCP - 7.65%
CDS - 7.26%
BE - 6.38%
Passaram-se 4 anos e o povo votante percebeu que todo o esforço que tinha feito não tinha dado em nada. Pelo contrário as coisas tinham piorado significativamente. O ataque demagógico a classes profissionais inteiras e os episódio muito pouco claros em que se viram envolvidos membros do Governo, em especial o 1º ministro, causaram uma erosão e um descontentamento crescente na sociedade portuguesa.
Mesmo assim, e fazendo uso de medidas eleitoralistas e atacando a oposição acusando MFL de "representante" de velhas ideologias, conseguiu nova vitória eleitoral.
As lutas internas e a instabilidade no PSD nada trouxeram de positivo a um partido que poderia ter crescido muito mais que uns meros 0.4%
Eleições de 2009
PS - 36.55%
PSD - 29.11%
CDS - 10.43%
BE - 9.82%
PCP - 7.86%
Mesmo assim o tombo do PS foi notável. Perdeu 9% e viu-se numa situação de minoria na AR.
Mas continuou a agir como se fosse uma maioria. A ponta do iceberg começou a ser evidente. Os anos anteriores tinham ajudado (e de que maneira) a arruinar um país com uma economia estagnada há mais de 10 anos.
Um endividamento absurdo quer privado quer público colocou-nos numa situação de pura indigência perante os nossos parceiros da UE.
O Governo e o PS não podem mais esconder aquilo que foi a (des)governação socialista desde 2005. Um caminho seguro para a ruína.
Países que enfrentaram de forma muito mais pesada a crise financeira de 2008 apresentam hoje indicadores de recuperação firmes ao passo que Portugal, pela incapacidade do seu governo que persistiu na negação das evidências, está ainda numa espiral descendente.
Se em 2009, o PS ainda usou os dinheiros públicos para aumentos eleitoralistas e pôde esconder o verdadeiro estado das coisas, hoje já não pode.
Não pode esconder mas ainda tenta fazê-lo. Apanhado com a boca na botija tenta alijar responsabilidades apontando para o único partido com hipóteses de ganhar as eleições - o PSD.
Mas fala só do que se passou desde há um mês atrás branqueando completamente o que foi a sua actuação muito antes de qualquer situação de instabilidade. Com os sucessivos PEC nas mãos sempre afirmou peremptoriamente que todos eles iam ser a solução para os problemas.
Já nem a treta da defesa do Estado Social é credível. Sobretudo quando sabemos que uma das medidas do PEC IV era a de congelar as pensões mais baixas e de reduzir as deduções à colecta em sede de IRS, dois componentes claros desse Estado Social que ainda resta. O governo olha para isso como "despesa do estado".
Desde as eleições de 2009 o PS mostrou a sua verdadeira face de um partido sem ideologia, governado por gente sem princípios e sem palavra. Por um partido e por um governo que tem causado verdadeiro sofrimento no povo eleitor. E sofrimento onde lhe dói mais - na carteira, e por arrasto no estômago.
Achar que o PS pode passar incólume a tudo isto é no mínimo ridículo. O povo ainda consegue perceber quem lhe fez o quê. Não basta retórica para imbecis e um tom assertivo na conversa para que as pessoas deixem de sentir na pele o que lhes caiu em cima desde 2005.
Tentando fazer previsões, eu diria que o PSD ganhará as eleições mas as diferenças mais significativas serão no CDS e no BE. No CDS no sentido da subida e no BE numa descida.
O PS irá provavelmente ficar com uma expressão eleitoral semelhante à que o PSD tem hoje, e o PCP será mais ou menos o mesmo. O PCP é sempre o mesmo.
Mesmo tendo oportunidade de pertencer a uma plataforma alargada de salvação nacional, prefere ficar de fora e mantendo a legitimidade para criticar.
Jerónimo podia mandar tatuar na testa a frase "contra a política de direita", uma vez que é sempre o que diz de cada vez que abre a boca. Não há novidade nenhuma a vir daquele lado.
Louçã pode ser um excelente tribuno, mas como quase todos os bons tribunos é muito bom em conversa e por aí se fica. Pode ser um excelente economista mas Deus nos livre de um dia ele ter hipótese de transformar o país no seu ideal político e económico.
Cada vez mais se comporta como um líder único dentro do BE e isso trouxe alguma inquietação aquando da moção de censura ao governo. Não acredito que o eleitorado fuja do PS para a esquerda radical. Não nos esqueçamos que esse eleitorado veio do espaço político do PSD em 2005 ao ter sido o PSD "empurrado" para a direita pela ocupação do PS do seus espaço político (em teoria, apenas em teoria).
A outra coisa que me faz esboçar um sorriso é quando alguém diz que o PSD não tem um programa de governo. Bem, na verdade não tem o PSD, o CDS, o PCP, o BE e nem sequer o PS.
O primeiro programa de governo elaborado com a liderança de Vitorino, foi triturado e atirado à rua no 1º ano de governação socialista. Desde aí foi navegação à vista, casuística e completamente desconexa.
A única parte do programa que ficou foi a elaborada pelas agências de comunicação a soldo do governo.
Daí a crença de Sócrates e dos seus próximos que a propaganda bastava para manter a máquina oleada. A chatice é que a realidade não se compadece com o teatrinho montado pelo governo e agora o cenário caiu e não há agência de comunicação que lhes valha.
Estou seguro que Sócrates precipitou esta situação ao perceber que era impossível gerir o caos que criou. Se o PSD engolisse o PEC ele ganhava, se não engolisse, ganhava na mesma.
É duma infantilidade gritante pensar que a não comunicação do PEC ao PR e à oposição foi apenas um lapso numa formalidade sem sentido. Sócrates melhor que ninguém sabe o que iria deixar a oposição irritada e as consequências dessa irritação. Aceitou passar por um tipo sem carácter só para conseguir o seu objectivo.
Mas parece-me que o que se passou a seguir não foi muito bem planeado. O PS ficou possuído dum terror absoluto de perder o controle das coisas. E sobretudo perder o controle de quem vai auditar o estado em que deixaram o país.
Uma auditoria aos desmandos destes 6 anos revelará provavelmente a coisa mais assustadora que o PS pode enfrentar. Não sabemos da missa a metade...
Sabemos agora que o governo andou a "martelar" as contas e que afinal o deficit não era de 7.3%. Número que foi ele também a base de uma campanha de propaganda do governo.
A aldrabice do nosso governo não andará muito longe daquela em que a Grécia foi apanhada. É também uma aldrabice deliberada e consciente conseguindo ainda omitir tudo o que foi desorçamentado através de díidas de empresas públicas e PPP's.
A fantástica prestação em 2010 era afinal uma fraude. Mais uma a juntar a muitas outras que foram acontecendo todos os dias desde 2005.
Mas ao bom estilo PS, lá apareceu Teixeira dos Santos a dizer que já tudo se sabia etc etc. Pois se se sabia porque é que ele não fez logo as contas bem? Porque é que teve de ser o Eurostat a por o dedinho no nariz das entidades (in)competentes e dizer - Vá, vamos lá a fazer melhor as continhas ok?
Haverá sempre aqueles que estão em negação e que vão votar no PS esteja na sua liderança o palhaço que estiver. Mas há outros que não se reveem nesta liderança nem nesta maneira de fazer as coisas. É o eleitorado "flutuante" que pode fazer a diferença. E que a vai fazer nestas eleições que se avizinham.
Sócrates não terá outro remédio senão demitir-se. O que vai depois acontecer a um partido que elegeu este indivíduo com 93% dos votos? Renova-se TODO? Os seus apoiantes fazem uma viragem de 180º e fazem o mea culpa?
Muito improvável. Vão virar a casaca precipitadamente e aguardar 4 anos para ver se voltam ao gamanço descarado dos recursos do país.
Partidos assim não se renovam. Fazem apenas uma retirada estratégica para voltar à carga de tempos a tempos.