O discurso

Andamos muito numa "onda" de analisar discursos.

Mas há alguns que me chamam a atenção.

Tinha a televisão ligada e pensei que era um excerto de um qualquer discurso de Passos Coelho. Mas era a transmissão de um discurso em Viana do Castelo, suponho que para militantes e simpatizantes do PSD.

Tenho de lhe reconhecer uma coisa. Ele tem de facto a capacidade de falar de forma compreensível.
Não sei se é de tanto ouvir o discurso aldrabão de Sócrates, com argumentação de débil mental ou se é mesmo porque o discurso de PC tem uma qualidade intrínseca. Mas caramba, que diferença.

Comparado com o que ouvi, Sócrates é um vendedor de cobertores de feira, que dá uns tachos de brinde.
Sócrates fala para tontos que pretende acicatar contra certos sectores da sociedade para legitimar as suas inacreditáveis medidas. Passos Coelho falou para gente que tem cérebro.

Estou particularmente à vontade porque não voto PSD e sempre achei que PC era a versão 2 de Sócrates. Carinha laroca, boa pinta e cabeça vazia.

Mas sou forçado a reconhecer que há muito tempo que não ouvia nada que desse uma réstia de esperança às pessoas. E logo a mim que sou um pessimista militante.

Se ele conseguir acompanhar a prática com o discurso, e se capitalizar no descontentamento que o país tem com Sócrates e o PS, o PSD vai arrasar em campanha eleitoral.
Se essa campanha apresentar um Sócrates desesperado, um Assis asinino e um Lacão lambe botas, mais vale o PS começar já a pensar em trocar de líder.

É a serenidade contra a crispação, a argumentação simples e clara contra o discurso intelectualmente desonesto.
Até na questão das SCUTS PC foi mortal. Não encontro uma forma melhor de chamar cobarde, mentiroso e desonesto a uma pessoa, sem usar palavras que não sejam ofensivas. Ele conseguiu. Brilhante.

Já tinhamos ouvido de tudo. Desde os discursos delico doces de Sampaio que nunca levaram a nada até ao discurso severo de Cavaco a quem ninguém parece dar atenção ao de Jerónimo que parece ter sido tirado da unidade criogénica onde residia desde 1975 em animação suspensa.

Passos Coelho tomou uma posição de honra quanto ao acordo que não aceita que seja quebrado, tomou uma posição de responsabilidade ao dizer que se o governo não consegue governar que saia porque haverá quem está em condições de o fazer.

Para mim foi uma lufada de ar fresco. Não sei se foi para mais alguém.

Já pouco me importa que tenha tardado. Mais vale tarde do que nunca.