Magistratura de influência....
Podemos tentar mas o resultado é nulo. Mas podemos sempre tentar.
Não é segredo nenhum que os poderes constitucionais do PR são escassos. Mas existem.
A diferença está na coragem de quem os tem em determinado momento para os exercer.
E Cavaco Silva não tem essa coragem.
Quando foi da eleição para o primeiro mandato já havia sinais de termos um governo prepotente sustentado por uma maioria acéfala a conduzir o país para o buraco. Ouvia-se toda uma argumentação centrada no facto de Cavaco perceber de Economia para o colocar como o candidato ideal para o lugar.
Como se por acaso o PR tivesse algum poder executivo e pudesse ter alguma influência nessas questões.
Vemos hoje, passado o primeiro mandato que não teve qualquer influência. Não só não o teve na questão económica como não teve em qualquer outro aspecto.
Cavaco mandou recados.
Todos os jornalistas e comentadores perdiam horas na TV e na imprensa escrita a tentar descodificar os recados de Cavaco Silva para o executivo e restante poder político.
O que é que Cavaco quis dizer com a cooperação institucional? O que terá ele querido dizer com necessidade de responsabilidade e honestidade na classe política?
Um exercício completamente fútil da parte de todos. Ainda mais sabendo todos que Sócrates ignoraria olimpicamente esses recados. Fossem eles quais fossem.
E cá estamos nós no segundo mandato, tendo passado por um período de 5 anos em que Cavaco foi um mero espectador ou se deteve em aspectos absolutamente marginais aos verdadeiros problemas do país.
Apesar de ter alguma razão no Estatuto da Reg Autónoma dos Açores, não deixa de ser sintomático que a única coisa que o irrita seja uma questão de "poderes" enquanto o país se afunda a uma velocidade estonteante.
O que é triste é que o lugar de Cavaco, apesar de permitir mais, foi usado apenas para questiúnculas estéreis típicas das discussões diletantes de uma certa classe política.
Cavaco tem medo. Tem medo de tomar decisões, de bater com o punho na mesa.
Tem medo de ser alguém a quem se possa apontar algo.
E como não gosta de correr o risco de ser criticado, prefere não fazer nada e falar em estabilidade.
A estabilidade do seu lugar é de facto simpática. 10 anos com um salário decente, viagens em representação do Estado e discursos de circunstância não é um mau emprego.
Mas a estabilidade que ele apregoa é a estabilidade numa situação de desespero para milhares e milhares de portugueses. Gostaria de saber se ele gostaria dessa "estabilidade".
Cavaco foi em grande medida o percursor do descalabro económico que hoje vivemos.
Os fundos de coesão foram destruídos sem critério e criaram fortunas da noite para o dia. Não se produziu riqueza.
Começou a transformar o estado numa teia interminável de interesses. Começou com ele o conceito do Estado a ser gerido como uma empresa.
Destruiu-se a agricultura e a pesca. Selou-se o destino da indústria. Tornou-se a construção civil na 1ª indústria nacional.
Hoje o resultado está à vista. As casas não se vendem e há mais casas do que as necessárias para alojar a população. Só que muitas delas estão devolutas e muitas nem sequer chegam a ter dono pelos preços insanos que custam. A indústria da construção civil está com a corda na garganta.
O ensino Superior com a leva de Universidades privadas que teve início nessa altura está como o vemos.
Milhares de licenciados sem emprego, com cursos de duvidoso valor e poucas perspectivas de poderem vir a ter a vida com que sonharam.
A aposta estratégica no betão fez obras necessárias é certo, mas lançou as bases para o desvario que veio a seguir. Numa competição por Km de alcatrão Guterres (e o seu ministro Cravinho) empenharam o país até ao pescoço com as suas concessões e as suas indemnizações compensatórias.
Não fez qualquer plano estratégico para este país. Que fosse a 10 anos, ou a 5. Nada. A única coisa que fez foi deixar antever aos mais atentos que um país que não produz o que come e o que consome ficará rapidamente com a corda na garganta. E essa falta de rumo e de sentido estratégico era aparente já nessa altura.
Só que, deslumbrados com os milhões diários que entravam no país, os portugueses fizeram o que sabem fazer melhor - ignorar e aguardar.
O que Cavaco nos deixou foi em grande medida uma ilusão. Uma ilusão de riqueza, uma ilusão de progresso e de desenvolvimento.
Hoje temos a desilusão. Nada do que foi feito teve bases solidas. A abundância desses tempos tem hoje uma pesada factura para pagar. E somos nós que a pagamos.
Glossário de termos (Cavaco Silva)
Magistratura de Influência
não fazer nada
Cooperação estratégica
não fazer nada
Cooperação táctica
Igual a cooperação estratégica mas de âmbito mais limitado
Estabilidade institucional
não fazer nada e não dizer nada
Magistratura activa
não fazer nada (activamente)
Definição de linhas de orientação e de rumos para a economia nacional
não fazer quase nada
Apaziguar os mercados
Exercer uma magistratura de influência definindo linhas de orientação e rumos para a economia nacional
Sociedade civil
- parte da sociedade que não é militar retirando apenas os políticos civis
- trabalhadores por conta de outrem, pagadores de impostos que não vivem da teta governamental com lugares de nomeação política