Como somos nós?

Mais do que a notícia acerca do cirurgião com competências únicas a quem foi oferecido um salário de 6 Euros por hora para fazer cirurgias de mudança de sexo, chocou-me a forma como muitos portugueses olham para o caso.

É sabido manancial de "caca" que existe nos comentários aos artigos dos jornais on line. Isso é sabido.

Mas de vez em quando somos brindados com um grau de estupidez inacreditável.

Alguns dos comentários à notícia referiam a pensão "extraordinária" de 1911 Euros que este médico tinha conseguido. Que loucura!!! Este homem descontou para ela durante 41 anos o que é uma carreira contributiva notável para receber uma pensão deste nível insano!!

Aparecem comentários do estilo: "isso nem eu ganho e ando a trabalhar" etc etc.

A mania igualitária que nos ficou do 25 de Abril não tem paralelo. E isto aliado à proverbial inveja do português é uma mistura absolutamente explosiva. Ou melhor implosiva, já que muitos dos cérebros desta gente parecem ter implodido e causado uma completa desmaterialização.

Ontem ouvi numa rádio uma anedota bem elucidativa da nossa forma de pensar.

Passa-se em Goa e é com um turista que anda na praia e vê um homem a apanhar caranguejos.
Ao vê-lo com o balde já quase cheio, fica espantado porque o homem vai apanhar caranguejos e deixa o balde destapado.

E diz-lhe: Oh homem, se você não tapa o balde eles começam a fugir...
Ao que o apanhador responde: Não há problema. Essa raça chama-se caranguejo português.
Intrigado o outro pergunta: Português? Que raio de raça é essa?
Apanhador: Bem, esses caranguejos são verdadeiramente estranhos. Quando um está quase a sair do balde vem outro lá de baixo e volta a puxá-lo para dentro.

Nós somos assim. Não podemos ver nada na mão dos outros. Nem sequer tentamos perceber o fosso de saber e de qualidade que existe para os outros.

Há esta ideia que não sei de onde veio que todos somos iguais em qualidade e em capacidade. Talvez da velha máxima comunista que diz que tudo deve ser nivelado para a sociedade ser perfeita.

Mas a verdade é que com um sistema desses ninguém luta para sair da mediania, sempre à espera que os outros se esforcem e que as "suas necessidades" sejam satisfeitas com esse esforço.

37 anos após o 25 de Abril e um breve período de loucura revolucionária que implantou isto em algumas cabeças, não só essa forma de pensar perdura, como há ainda muitos burros como um saco de martelos que não conseguem ver mais longe.