O que seria diferente se tivéssemos sabido a verdade?
E por uma simples razão: Nós sabíamos a verdade. Mas não ligamos a esses detalhes.
Não foi apenas um economista a dizer o estado em que estávamos. Seria difícil ter sido só um olhando para a estagnação do país nos últimos 10 anos.
Desde os primeiros anos de crescimento anémico que muitos apontaram o dedo ao mal. E os governos sucessivos disseram que iam resolver tudo.
Durão Barroso com o seu famoso discurso do "pais de tanga" disse-o e quase foi apedrejado. Acusaram-no de falta de sentido de Estado, de baixar o discurso a um nível impróprio de um primeiro ministro. Acusaram-no a a ele e ao PSD de estar apenas a denegrir a imagem do desistente Guterres.
E apareceu Sócrates. Com o seu pendor reformista e com a promessa de que ia acabar com a bandalheira. E a bandalheira estava no funcionalismo público. Foi como um doce para todos aqueles que detestam esperar mais de 5 minutos numa repartição de finanças ou num hospital. Os funcionários eram a razão da ineficiência do sistema e tinham de ser postos na linha.
A péssima formação de um aluno que acaba o secundário era a exclusiva culpa dum corpo docente acomodado e pouco preocupado com o seu dever.
A culpa dos atrasos na justiça eram do símbolo máximo de poder (o magistrado judicial) que se refastelava com meses e meses de férias não cumprindo as obrigações que o seu elevadíssimo salário ditaria.
Logo que assisti a esta manipulação nos primeiros meses do 1º governo fiquei preocupado. Verdadeiramente preocupado.
Todos os bodes expiatórios apontados eram por diversos motivos incómodos para Sócrates e para o PS. Os funcionários públicos pela massa salarial que representam, e os magistrados pela independência e pelo potencial de apanhar os "camaradas" nos esquemas em que eram (e são) especialistas.
E aí se começou uma era de anúncios repetidos que por si só bastavam para resolver os problemas. Os media bebiam aquelas palavras como se fossem uma verdade divina, nunca questionando nem confirmando a sua aplicação. Chegavam a ser anunciadas várias vezes em debates na AR e o primeiro ministro ganhava sempre. Pois claro que ganhava.
Foi destruindo no partido aqueles que poderiam fazer-lhe frente, deixando apenas um restrito grupo de camaradas amestrados e inertes.
Completamente autoritário e incompetente obrigou os seus ministros a alinhar pela sua batuta, despindo-os de qualquer autonomia e de relevância. O desprezo a que os votou foi de tal forma imenso que nem discutiu com eles as medidas que foi apresentar a Bruxelas. Algo que nem Salazar se lembraria de fazer.
No fim do 1º governo, Manuela Ferreira Leite bem avisou o país para o que iríamos enfrentar em breve. Mas mais uma vez não ligamos porque a senhora é velha e Sócrates tem mais "pinta".
As televisões e a imprensa encarregaram-se de reforçar esta ideia até à nausea. A senhora não tinha boa imagem televisiva e foi até ridicularizada por aparecer com uma imagem mais "leve" numa entrevista com Judite de Sousa.
Ninguém quis saber. E ainda há muitos que não querem saber. Quando o Estado e as suas empresas faltarem com o salário ao fim do mês, talvez muitos dos que votaram em Sócrates se apercebam do ponto a que este país chegou apesar dos inúmeros avisos.
Pode ser que nessa altura pensem que o que quer que venha a seguir não pode ser tão mau. Ou talvez pensem na sua infinita estupidez que a culpa foi de facto de Passos Coelho por não ter negociado. Não devemos nunca subestimar o raciocínio bizarro de um imbecil.
Há gente que por uma questão de fé pode ser torturado até à morte sem culpar o torturador.
A ascensão de Sócrates ao lugar de 1º ministro irá ficar na história como uma das coisas estranhas que pode ocorrer pelo voto popular. Não nos esqueçamos que Hitler foi eleito por um povo desesperado e envergonhado pelas condições impostas pelos vencedores após uma guerra perdida.
A crença em líderes mal formados é infelizmente uma realidade. E Portugal é a prova mais que provada que a história se repete.
Sócrates não tem estatura, formação ou carácter para ser alguém que lidere um país.
Nem uma junta de freguesia. A sua única competência é destruir o adversário recorrendo à mentira à manipulação e a estratégias que envergonhariam um Borgia.
Mas ele foi eleito. Duas vezes. E foi eleito para líder do PS mais uma vez por uma margem digna da URSS ou de uma qualquer ditadura. O partido está nas suas mãos e quando ele cair o partido cairá estrepitosamente.
Em condições normais os membros destes executivos e toda a corja de boys colocados judiciosamente no aparelho de estado sentar-se-iam no banco dos réus por gestão danosa de um país inteiro. E antes deles os que estiveram com Barroso e com Guterres. Poderíamos ir até mais atrás com o desbarato e as fortunas rápidas que se criaram com a enxurrada de fundos da CEE.
Infelizmente isso nunca acontecerá, mas fica pelo menos a satisfação de tudo isto irá custar a Sócrates naquilo que a que ele dá mais importância - no ego.