Coincidências? Ah pois, claro
Constança Cunha e Sá criticou o desempenho de Pedro Passos Coelho no debate quinzenal desta sexta-feira.Admito que em 3 casos até possa concordar com António José Seguro num deles. Mas já acho demasiado estranho que se concorde nos 3. Não acredito em coincidências. Acredito mais no sectarismo e na falta de isenção dos jornalistas do que em coincidências.
«Há uma enorme impreparação do primeiro-ministro. Nunca vi um primeiro-ministro tão mal preparado. Em relação à Maternidade Alfredo da Costa, que não é uma maternidade qualquer, porque é a maior do país, diz que leu qualquer coisa nos jornais, mas não discutiu com o ministro, que não lhe tem de comunicar informações. Em segundo lugar, demonstrou impreparação em relação às redes da EDP e da Galp. Como é que uma medida tão importante, de uma coragem desmedida, não sabe as verbas envolvidas? E por último a Europa, em que Passos tem uma posição incompreensível. Houve um Eurogrupo com a presença de Gaspar, mas é como se o acontecimento não existisse, quando é referido por todos lá fora. Alguns pormenores só se conhecem no dia 21, é certo, mas como é que em Portugal o primeiro-ministro tem o descaramento de dizer que como não houve pedido formal o acontecimento não existiu? Isto é surrealista», disse na TVI24.
Em relação à moção de censura apresentada pelo PCP, considerou que «não tem qualquer eficácia em termos práticos, como Jerónimo reconheceu, porque o PSD e o CDS têm maioria», mas serve para «tomar iniciativa dentro da esquerda, obrigando o Bloco a votar a favor e encosta o PS à parede».
Vamos por partes.
O caso da Maternidade Alfredo da Costa não é de hoje. Não é sequer deste governo. O plano do fecho da maternidade vem do anterior Governo PS. Chegou a estar anunciada e a SIC até fez uma peça a puxar ao sentimento por causa disso.
Correia de Campos fechou maternidades por todo o país, com a coroa de glória em Elvas, e a não ser algumas populações locais não me lembro de nenhum comentador ter vindo para as televisões com este tipo de argumentação. Lá por ser a maior maternidade do país não quer dizer que os partos não estejam em declínio nem quer dizer certamente que não haja mais natalidade nos concelhos limítrofes de Lisboa do que na cidade.
Seja como for, se as razões económicas assim o determinarem, foi a argumentação que bastou para os cortes salariais da função pública DEPOIS de o Sr. Sócrates ter reduzido todos esses salários acima de 1500 Euros. Ou seja, as razões económicas são invocadas de forma igual por uns e por outros.
No entanto, o PS apesar de o fazer nunca conseguiu parar de gastar o que não tinha, agravando de sobremaneira a situação.
O sentimentalismo bacoco à volta da MAC é patético a todos os níveis. Desde que a MAC funciona houve um salto qualitativo nos equipamentos hospitalares por todo o lado. Em Lisboa inclusive.
Não creio que se esteja a falar de acabar com os serviços proporcionados pela MAC.
O argumento "o sítio onde se nasce não devia morrer" é uma coisa bonita a puxar ao sentimento mas é a vida. O hospital onde eu nasci e mais uns milhares como eu já não existe. Isso não significa que tenham deixado de nascer crianças na minha cidade nem que a mortalidade ou a falta de cuidados médicos se tenha agravado depois disso. Muito pelo contrário.
Se os custos são demasiado altos e se consegue o mesmo serviço por valores mais baixos faça-se. Foi isso que Correia de Campos invocou para fechar todas as que fechou. Não podemos andar a berrar por uma carga fiscal e desbarato do Estado e quando se tenta racionalizar ou optimizar os gastos ter os mesmos aos gritos. Sobretudo uma passa velha como esta Cunha e Sá que só se lembrou disto porque o Tózé resolveu fazer figura de parvo na AR.
Quanto às rendas da GALP e EDP parece-me quase ridículo que se invoque este tipo de argumentação. Sobretudo com o grau de definição que se tem das potenciais poupanças.
Já de António José Seguro não me surpreende. Ele é um idiota chapado e ouvi-lo a pedir o breakdown parece-me normal. Já não me parece normal ouvir alguém com dois dedos de testa a fazer o mesmo. O valor do intervalo da poupança já foi referido. Ainda deverá estar dependente de pormenores da negociação. Até acredito que saber agora qual a composição desse valor não seja minimamente rigoroso.
Mas isto é segundo esta insigne comentadora um sinal de impreparação.
Finalmente o argumento das negociações das condições da Espanha. O mesmo argumento do Tózé trazido à baila por esta comentadora. Ou a senhora tem uma enorme falta de ideias ou deu em pegar em toda a argumentação imbecil que Seguro usou na assembleia.
Não me choca nada que tenha ficado acordado que se a Espanha pedisse oficialmente ajuda a UE aceitasse.
Também não me choca nada que ao afirmar estes princípios duma forma muito geral não se tenha entrado em detalhes.
De nada serve estar a acertar detalhes se não houver um acordo. E os detalhes não são normalmente a 1ª parte do processo.
Mas mesmo assumindo que essas condições tivessem sido acertadas não creio que coubesse ao 1º ministro português revelá-las na AR antes de a EU as revelar. Mas creio bem que nem é esse o caso.
Não me parece que já tenhamos chegado a esse ponto.
A argumentação imbecil de Seguro tão prontamente seguida por esta senhora com a mania que é frontal e "desenrascada" talvez devesse ser melhor explorada.
Seguro quer as mesmas condições que a Espanha vai pagar. Isso é mau sinal porque se fala que a banca espanhola vai pagar perto dos 8% de juros enquanto que a nossa banca paga a mesma taxa de juro do resgate. Ou seja entre os 5 e os 6%.
O que quer Seguro? Que tenhamos juros tão bons como eles se forem mais baixos mas que sejam só os nossos juros se forem mais altos?
Estes comentaristas que prontamente seguem a voz do dono arriscam-se seriamente a fazer as mesmas figuras de estúpidos que os políticos a quem tentam desesperadamente agradar.
Diz a prudência que não se deve seguir cegamente aquilo que um político diz. No caso destes comentadores deveria até estar afixado nas redações dos órgãos de comunicação um poster com os 10 mandamentos do jornalista/comentador
- Serás equidistante e isento
- Pensarás pela tua cabeça e fá-lo-às antes de falar
- Não cederás à tentação de te aproximares do poder mesmo que isso te dê acesso privilegiado à informação
- Evitarás a promiscuidade com políticos sob pena de perderes a credibilidade
- A notícia não és tu e os factos não são relativos
- Não falarás de assuntos que não dominas nem sequer superficialmente
- Não emitirás juízos pessoais como se fossem verdades insofismáveis
- Começarás sempre por "na minha opinião.." quando emitires opiniões pessoais
- Tens o dever de informar. O espectador/leitor/ouvinte tem o direito de formar a sua opinião
- Não repetirás o que Seguro diz, porque Seguro quase sempre diz merda.