O inútil espectáculo da Covilhã
Segundo o sindicalista que se atirou para cima do "capôn" do carro do ministro, ele estaria a agir em auto-defesa. Defesa às "provocações" que vieram de "dentro do carro do ministro".
Os gesto é meio desajeitado, percebe-se que tenta evitar a estrela da Mercedes para não se aleijar e quase parece desejar que alguém o tire dali.
A fúria para com o ministro Santos Pereira é apenas uma questão de oportunidade. Não tem sido pela actuação dele que as coisas estão pior ou melhor. É claramente um indivíduo com boa vontade, com uma maneira de pensar diferente do "normal nacional" e sobretudo não é um "político" na pior acepção da palavra.
Percebia melhor esta fúria deslocada se fosse com Vitor Gaspar ou com Passos Coelho. Não se percebe muito bem com Santos Pereira.
Mas é assim que a CGTP e o PCP funcionam. A adesão popular que possam ter é imediatamente aproveitada e empolada com efeitos propagandísticos.
Nenhum governo faz o que este está a fazer por uma questão de gosto ou por uma questão ideológica. Não há governante que não goste de ter o povo contente para manter os seus votos. Sócrates era mestre em mentir para obter esse resultado. E fê-lo à custa de uma situação que descobrimos tarde demais.
Não é de certeza vontade de um governante tomar as rédeas de um país falido, prestes a não conseguir pagar salários ao funcionalismo público e aos pensionistas.
Este governo é uma espécie de administrador de insolvências que tem uma oportunidade e apenas uma, de salvar o pouco que resta de uma país.
A única coisa que critico a este governo é a sua celeridade em penalizar fortemente os que não se podem defender e andar com tantos "rodriguinhos" com aqueles que roubam o Estado de forma bem significativa.
Seja por razões contratuais ou outras quaisquer, o corte na despesa do Estado e em especial nas famigeradas parcerias público privadas, esbarra nas "impossibilidades" legais.
Também as outras medidas mais polémicas deveriam ter esbarrado nessas "impossibilidades legais". Um contrato de trabalho com os funcionários públicos não pode ter menos validade legal que um contrato com uma empresa concessionária de uma auto estrada inútil. E é isso que este governo não consegue fazer ou não quer fazer.
Mas tudo isto não faz desaparecer aquilo que é uma triste realidade. O país está falido, vive da mendicidade e não é comparável a sua importância e poder de pressão ao de uma Espanha ou até de uma Irlanda.
O que a CGTP, PCP, BE e PS fingem não saber é o simples facto de não haver dinheiro para pagar tudo como se pagava até aqui.
O PS deu um golpe absolutamente mortal à sustentabilidade do país endividando-o para lá de toda a sensatez. E isso aconteceu sabendo das taxas de crescimento anémicas que tínhamos durante uma década. Não é sequer preciso um economista para perceber que esse caminho tinha um desfecho terrível. O PS e Sócrates não quiseram saber. Usavam paliativos ridículos com os sucessivos PEC cuja receita desbaratavam logo de seguida.
Com este tipo de actuação à vista de todos nunca as críticas da esquerda tiveram o tom que têm hoje. Sabiam o caminho que se estava a trilhar e entretinham-se a discutir idiotices.
Foi o PCP que se manifestou a favor do TGV numa altura em que era óbvio para todos que era um projecto que não podíamos fazer. Não só pelo seu elevado custo inicial como pelo projectado prejuízo operacional.
Era apenas mais um episódio a juntar a todos os que afectam o sector dos transportes que acumula uma dívida absolutamente gigantesca que nem os subsídios de férias e Natal de todos os portugueses conseguem pagar.
A CGTP e o PCP sempre foram especialistas na organização deste tipo de manifestações. E nada consegue um ministro com boa vontade ao tentar discutir com gente de intelecto básico como o imbecil que se pôs em cima do carro.
Virão agora com todas as justificações para o tipo de atitude que tiveram. Não lhes vai custar nada justificar aquilo. Aliás, há uns anos o PCP não tinha nenhum pejo em desculpar as atrocidades cometidas nos países do Leste e até em dar essas sociedades como um exemplo a seguir.
Tirando alguns iluminados no partido (a vanguarda intelectual dos trabalhadores) muitos deste tipos não são mais do que idiotas úteis de cérebro absolutamente lavado por anos e anos de chavões.
A primeira coisa que acontece a um comunista quando enriquece e deixar de ser comunista. Se têm dúvidas vão ao Alentejo e encontrarão alguns desses. Acérrimos defensores da reforma agrária e das ocupações, não eram mais que meros oportunistas que logo que puderam meteram a mão no saco.
Alimentam-se dos seus próprios ódios e dos seus próprios chavões quais beatas rezando constantemente.
Mas era como dizia alguém há uns anos atrás sobre o conflito palestiniano: Só são precisos 365 suicidas por ano para por uma país de milhões de joelhos. Basta que cada dia um deles faça ir um autocarro pelos ares e todo um país vive num pânico insuportável.
Basta ter um grupo bem instruído que viaje para cada sítio do país onde vai estar um membro do Governo para dar a sensação de que o descontentamento é generalizado e intenso.
Na verdade as sondagens dizem algo de diferente. Espantosamente a base de apoio do governo é ainda estranhamente alta. Tudo isto num país de tanga há bem mais de uma ano.
Não é estranho?