“um exemplo de boa prática de gestão”
É por isso que se me eriçam os cabelos quando ouço gente a falar de "boas práticas" de forma pomposa. Quem as tem não faz publicidade delas. Quem muito espalhafato faz ou normalmente não as segue sem grandes consequências, ou as viola estrondosamente com resultados como os que estão à vista na Parque Escolar.
Estes "artistas" com a cobertura de duas ministras da educação, de um ministro das finanças e de dois ministros das obras públicas desbarataram sem nexo todo o orçamento em menos de metade das obras planeadas.
As loucuras foram desde gastos injustificados em candeeiros de "artistas famosos" até sistemas de climatização sofisticadíssimos que as escolas não têm orçamento para por a funcionar ou belos jardins que as escolas não conseguem pagar os custos de rega e manutenção.
Todas estas tropelias aconteceram porque a forma como os adjudicatários das obras funcionam é por demais conhecida. fazem uma proposta a queimar preço e depois a coberto de alterações o custo da obra vai aumentando desmesuradamente.
Algumas destas coisas são obviamente estratégia do empreiteiro, mas outras decorrem da total incompetência de quem contrata a obra, mudando o programa ou pedindo alterações que são pagas a preço de luxo. Mais grave é a sensação de que se fizeram opções nestas obras no sentido de beneficiar alguém.
E quando isso acontece a pergunta que fica no ar é: E isso é feito a titulo gratuito?
Tenho as minhas sérias dúvidas. Não é possível fazer tão mal sem alguém se propor a fazê-lo. Eu diria que a Parque Escolar é a autora de um manual de péssimas práticas.
Este descalabro significa agora uma cadeia de calotes. Os empreiteiros e subempreiteiros não recebem, os vendedores de material de construção que forneceram também não e lá no fim da cadeia vai haver alguém a arder a sério.
Todo o processo de gestão associado à Parque Escolar começa num erro básico.
Para quê criar uma "empresa" que fique com as Escolas se elas são propriedade do Estado? Não há nenhum departamento no Ministério que possa lidar com isto?
Há sim senhor. Mas ao abrigo das regras da função pública não se podiam contratar uns administradores de competência mais que duvidosa com salários pornográficos.
Em segundo lugar a orçamentação (ou desorçamentação). Com esta estratégia estes desmandos não aparecem no OE. São um buraco que é responsabilidade do Estado mas fora das contas.
Qual a vantagem de estar fora das contas? Lembram-se da aldrabice que a Grécia foi fazendo ao longo dos anos? Pois, nós também e em grande escala.
Atrevo-me quase a dizer que o que se passa com esta gente é a total falta de sentido de responsabilidade ao gerir o dinheiro de todos nós. Eles estão tão convictos de que o dinheiro não tem fim e não pertence a ninguém que se permitem usar "estas boas práticas".
Para falar bem e depressa são uns gestores de merda, possivelmente corruptos.
Custa-me a crer que se seja tão incompetente por acaso. Daí que só posso pensar que estes trabalhos a mais e estes equipamentos manifestamente exagerados são comprados com outro fim em mente.
Em qualquer dos casos deviam ser responsabilizados como qualquer gestor de uma empresa privada que cause danos desta ordem aos seus accionistas. Neste caso o Estado. Neste caso nós.
Quando se assiste a gente como Lurdes Rodrigues, Isabel Alçada e Canavilhas a dizer o que dizem em defesa de um poço sem fundo irrita profundamente. No caso das duas primeiras existe óbvia responsabilidade no assunto. A Parque Escolar não é uma empresa qualquer. É pública e gere o parque escolar, logo com laços directos ao ministério da educação. Que define os programas de cada obra e aprova os orçamentos das mesmas. Se as coisas derraparam assim qualquer das duas ministras é directamente responsável.
A estafada mania de falar em "boas práticas" por parte desta gente só realça até que ponto a expressão é vazia e falsa. Tudo o que fizeram nada tem de boas práticas de gestão. Dificilmente se pode chamar gestão a esta forma criminosa de gerir o dinheiro de todos nós.