Januário Boçal Berreiro
É muito pouco relevante nessas alturas que aquilo que esses personagens dizem é pouco factual, pouco pensado e muitas vezes completamente determinado por crenças ou simpatias pessoais. falar alto, com um ar zangado e dizer coisas polémicas é muitas vezes aplaudido.
O que não se espera é que um homem do clero o faça. E que o faça de forma abundante.
Já tivemos até hoje inúmeros casos de corrupção chapada. Foram os casos de Melancia em que se provoou um corruptor activo e não se provou um corruptor passivo (imagine-se), foram os casos Portucale em que nada de substancial aconteceu, foram os casos no mínimo estranhos de negócios com o Estado em que incompreensivelmente o Estado funciona como a vaca leiteira de todo um universo empresarial que nada precisa de fazer, foi o caso Freeport em que não é possível encontrar um cenário mais claro de corrupção despudorada etc etc.
Nunca nenhuma personagem veio aos media abrir a boca de forma completamente demente a chamar corruptos aos personagens envolvidos nestas negociatas.
Nunca até ontem. D. Januário escolheu precisamente este governo para qualificar de corruptos todos os seus membros. Um governo que até agora não fez nenhum contrato ruinosos com os privados, que parou a mama do TGV e do novo aeroporto, que conseguiu reduzir os custos com a toda poderosa big pharma.
Não tenho dúvida que num qualquer gabinete haja um corrupto potencial ou um corrupto em "exercício de funções". Mas perante o que foi a gestão anterior de Sócrates, vir chamar corrupto a todo um governo por causa do diploma de Relvas é no mínimo digno de internamento psiquiátrico.
A escala de corrupção que se viveu com a gestão anterior é inegável e a uma escala que levou jum país à falência. Como se poderiam explicar os negócios ruinosos, um após o outro, com as PPP's?
Com o arrendamento de tribunais, de hospitais, de escolas. Como se poderia explicar o desbarato de dinheiro de uma Parque Escolar, com as parcerias rodoviárias ou com um defunto terminal de contentores se estes negócios não existissem como um mero suporte para o enriquecimento ilícito de responsáveis políticos?
Ter um bispo, ainda que seja o bispo das forças armadas, a proferir este tipo de palavreado é no mínimo inesperado. Não é inesperado por parte dele. É inesperado por parte de alguém colocado alto na hierarquia da igreja que deve no mínimo olhar as coisas com alguma ponderação e igualdade de critérios.
Num antro de corrupção, negligência e faz de conta que foram os governos de Sócrates, nunca o ouvi sequer proferir declarações polémicas. Não o ouvi dizer nada de parecido com isto relativamente à formação forjada de Sócrates. Ou relativamente ao desprezível Paulo Campos que mente com quantos dentes tem na boca e que delapidou por dezenas de anos o dinheiro de todos nós.
D. Januário pode estar zangado. Estamos todos por causa do esbulho fiscal a que somos obrigados para pagar a desgraçada dívida que os "amigos" de Torgal fizeram. Estamos todos zangados, os que votaram em Passos e os que não votaram nele.
Alguns sabiam claramente o que os esperava quando se falou em austeridade e contenção. Alguns tinham a percepção clara de que o sítio onde nos tinham metido era um beco sem saída de onde se sai apenas de marcha atrás.
Alguns ainda estão mais zangados porque apesar de não se terem metido em loucuras de crédito e vida "abastada" têm agora de pagar por eles e pelos outros.
Mas a diferença básica entre esses zangados e o sr. bispo, é que alguns conseguem perceber que a escala da desonestidade, incompetência e falta de carácter entre o Governo de Passos e o Governo de Sócrates é incomparável.
Acho muito bem que se ouçam todas as vozes discordantes. Acho muito bem que se ouça o sr. Bispo e o bastonário da OA. Calá-los não estaria bem. Percebe-se muito bem a forma como os media tinham pavor das reacções do "animal feroz" e como t~em medo das reacções deste governo.
Viviam borrados de medo com as represálias "silenciosas" de que Sócrates tanto gostava.
Agora pelo menos têm liberdade de se expressar. Agora têm acesso ilimitado aos media. Mesmo que seja para mostrar o seu sectarismo e falta de controlo.