Requiescat in pace

O Público vai ser reestruturado.

Em linguagem comum significa que 48 colaboradores vão ser postos a andar para reduzir custos.

O jornal tem vindo a vender cada vez menos. Pode ser uma questão conjuntural causada pelo "mundo digital" ou pode ser outra coisa qualquer.

Talvez se perceba agora que o modelo digital pode ser mortal para a informação. Mas não para toda.
Enquanto que subscrevo alguma publicações em formato digital, o Público nunca foi sequer considerado.

Comprei regularmente dois jornais portugueses - O Expresso e o Público.
E porque é que deixei de o fazer? Não foi por estar disponível uma versão digital reduzida de ambos a custo 0.

Foi porque a informação que ambos veiculam tem um valor cada vez mais próximo de 0.
O Expresso com a sua óbvia alteração de linha editorial passou a ser apenas um saco de papel para acender a lareira. Passou a tornar-se mais normal comprá-lo no Inverno.
A dada altura pensei que comprar acendalhas eram uma muito melhor opção. Já nem se justificava comprar papel para queimar aquele preço.
Não ajudo a alimentar gente que considero desprezível.
Os Costas, Nicolaus, Marinhos, Oliveiras etc etc.
Risquei o Expresso.

Com o Público a coisa foi mais abrupta. Num dia o jornal parecia suportável e no dia seguinte deixou de o ser.
Não é que não se notasse já uma degradação considerável na qualidade da matéria escrita. Mas ainda havia algum cuidado com a equidistância política. Tanto se fazia algum eco da propaganda Socratista como por outro lado se via um artigo sobre a licenciatura falsa de Sócrates.
Mas o Público chegou ao ponto em que JMF saiu.

E com esta senhora que está lá hoje, foi tão óbvia a mudança de linha editorial que só alguém muito desatento é que pode não ter dado por ela. Vários amigos meus que compravam o jornal e o traziam para o local de trabalho cessaram simplesmente do o fazer.
O Público passou a ser uma espécie de megafone pro Socratista. Talvez mais anti Passista do que outra coisa, mas a verdade é que tenho a certeza que o Público se afundou depois da saída de JMF ao ter adoptado um claro desvio socialista nos seus conteúdos. Ao ponto de omitir pura e simplesmente notícias de alguma relevância.
Cheguei a falar disso neste blog. O caso que me vem à memória foi o de Paulo Campos e o seu pedido expresso para toda a informação passar por ele antes de ser reportada a organismos da república.
Uma notícia dessa importância com um comunicado oficial publicado noutros jornais, não foi sequer mencionado no Público. De notar que a fonte da notícia nos outros jornais era a Lusa, pelo que não tenho qualquer dúvida que o Público teve acesso a ela.

Uma relação difícil com a verdade

Desde títulos sensacionalistas que nada têm a ver com o corpo da notícia que se lhe segue, até peças incompreensíveis (várias sobre os números da execução orçamental) de tudo apareceu no Público.
Em muitos casos a notícia conseguia (e consegue) estar tão mal escrita que não se consegue saber se a notícia é boa ou má. Nos casos em que estão envolvidos números a baralhada é de tal forma ridícula que torna o conteúdo indecifrável.
No entanto ainda não chegou ao ponto do Sol que conseguiu ter duas notícias opostas ao mesmo tempo e com destaque.

Uma informação credível

A coisa foi tão ridícula que para perceber qual das duas estava certa tive mesmo de ir buscar o Boletim do Banco de Portugal e fazer eu próprio as contas

O preço a pagar por uma informação miserável

No entanto a notícia acerca deste tema no Público era tão bizarra que parecia que alguém tinha metido os números num triturador e serviu sob a forma de puré noticioso.

Mudou também a política de comentários nas notícias.
No início, o estagiário encarregue da censurar alguns comentários tinha uma veia claramente pro esquerda. À noite lá deixava passar algumas. Mas os comentários do Público passaram a ser uma coisa tão incipiente e absurda que é caso para perguntar para que servem ou o que ganha o jornal online com eles.

A qualidade do Público tem vindo a descer vertiginosamente. Publica rumores, "diz que disse", especulações sobre cenários especulativos.
Perdeu-se completamente a ética jornalística no que diz respeito à confirmação dos factos.
Os artigos que focam aspectos que são da área de especialidade de cada um de nós (tecnologia, saúde, justiça, economia) parecem ser redigidos por débeis mentais. Alguém que seja duma destas áreas e conheça o tema deita as mãos à cabeça de espanto.
A linha editorial passou a ser despudoradamente pro esquerda. Sem qualquer disfarce. Sem qualquer declaração de simpatias. Seria muito mais sério se o fizessem. Deixavam ao leitor a escolha.
Assim o leitor acaba por fazer a sua escolha apenas um pouco mais tarde.

Com uma boa seleção de blogues de "amadores" conseguimo-nos manter mais informados do que num jornal com profissionais.

O Público irá acabar como acabaram muitos projectos editoriais neste país. Pode cantar de galo pelo número de hits no seu site ou pelos prémios de design web. Isso não dá dinheiro.... É uma boa medalha para se ter ao peito na fila do centro de desemprego.
A única coisa que isso diz de um jornal on line é que tem bons web desingers ou que é mais fácil de encontrar na web. Não quer dizer que tenha mais leitores porque tem mais qualidade.
Poderiam também publicar quanto é o tempo médio por página e quantas páginas em média tem uma visita. Mas essas estatísticas não se revelam. Não enchem o olho e até se enganam alguns tontos.
O público é um pouco como a Sonae (sem contar com o ramo alimentar). Faz um espalhafato enorme, mas no fim quando se vão contar os clientes é mais ou menos incipiente. Poucos clientes no móvel, pouquissimos clientes na TV, nada no resto. Não fossem os supermercados a sustentar a barraca e já não havia família Azevedo há muito tempo. No fim de contas ser merceeiro ainda é o que os safa.

Muita da culpa da queda do Público é dele próprio. Quando a qualidade da informação faz com as pessoas deixem de o visitar ou de o comprar, não há forma de os ter de volta.
E convenhamos que desde há um par de anos o Público tem feito tudo, mas mesmo tudo, para abrir falência.

Adeus. Que a terra lhe seja leve.