Da falta de profissionalismo

Seja qual for a área tratada nas notícias, já todos nós assistimos a uma falta de qualidade gritante na informação que nos é servida.
Isso é mais evidente nas televisões dado o imediatismo espalhafatoso que têm de apresentar hora a hora, mas mesmo na imprensa escrita a falta de trabalho de casa faz-se notar cada vez mais.

Seja sobre justiça, medicina, economia ou outra coisa qualquer, a informação que deveria ter como objectivo "informar" não passa muitas vezes de um mero amontoado de palavras sem substância que deixam o leitor ou espectador mais baralhado do que antes.

E o drama é que os que não sabiam continuam sem saber, ou pior, convencidos de que sabem.

Pergunto-me muitas vezes porque é que isto é assim. É intencional ou é um resultado da superficialidade e falta de cultura que grassa nas nossas redações?

Se bem que alguns dos jornalistas que conheço são a todos os títulos medianos culturalmente, noutros casos a questão já se prende com uma intenção deliberada de fazer o menos possível para esclarecer as pessoas.
Refugiam-se no "tempo da informação" como desculpa para o menor rigor ou na falta de interesse para aprofundar as questões correctamente.

Mas se isso é compreensível no caso dos telejornais, é muito menos aceitável no caso de entrevistas de uma hora, preparadas de antemão em que o dever do jornalista seria informar-se meticulosamente sobre os temas que vai abordar com o seu entrevistado.
Só assim pode ficar patente se estamos perante um vulgar pantomineiro ou perante alguém que tem alguma estatura e convicção no que faz e diz.

Lembramo-nos bem do que foi a entrevista de Sócrates defendendo-se com papelada falsa das acusações acerca da sua "formação universitária". Nem uma pergunta sobre a pós graduação inexistente, nem uma pergunta sobre o diploma passado num domingo ou sobre os números de telefone e códigos postais avançadíssimos para a época.
Deixar passar anacronismos daqueles que põem a descoberto uma clara falsificação é indesculpável para um jornalista.
E isso só é possível porque os "bravos"  jornalistas não querem ser tomados por hostis e não querem vir a ter de suportar as represálias que seguramente se seguiriam.

Judite de Sousa é fértil nestes episódios. Com o estatuto de estrela e o seu irritante defeito de fala, consegue ter toda esta gente a passar-lhe pela frente sem fazer um única pergunta difícil. É de tal forma patente o seu deficit de conhecimento que basta ver um programa com Medina Carreira para ver constantemente o seu ar bovino perante as afirmações dos entrevistados (Medina e outro).
Com perguntas quase infantis, com um ar de espanto permanente, é quase doloroso perceber como uma jornalista super bem paga pode ao fim de tantos anos de carreira saber tão pouco acerca de tudo.

Mas não é só Judite de Sousa a única indigente no meio jornalístico. A maior parte dos chamados "jornalistas" são incapazes de passar da superfície. Vêm o mundo de uma forma assustadoramente superficial e imediatista que acaba por ser natural para eles que a informação que passam seja apenas a aparência das coisas.

Se isso se admite em alguém que começa, é de todo inaceitável em quem tem dezenas de anos de profissão. Mas a verdade é que a única coisa que estes jornalistas têm de diferente é o número de anos de profissão. Foram subindo na cadeia "alimentar" dessa forma. Não foi o mérito ou a qualidade do seu trabalho que os guindou a mais altos voos.

Numa era em que a informação está disponível em segundos, é triste pensar que um jornalista consiga dar informação pior do que aquela que o comum cidadão encontra na Internet com um pouco de trabalho.
Só que nem todos os cidadãos o fazem. Quantos são os que nesta tempestade dos swaps foram tentar perceber exactamente o que é um derivado? Um swap? Um forward? Um CDS? Poucos, muito poucos. Talvez porque isso é complicado e não lhes interessa nada. Mas a conversa deturpada que os jornalistas debitam vai-lhes ficando na cabeça. Ideias distorcidas duma realidade que não compreendem.

O que já não é admissível é que um profissional da informação faça o mesmo. Sem sequer se preocupar com rigor. O rigor que se exige a um profissional do ramo.

Lembremo-nos do espectáculo que foi um jornalista de assuntos económicos ser enrolado por um vigarista com credenciais de um organismo que não existia. Porque é que aconteceu?
Por pura falta de profissionalismo. Porque o jornalista (Nicolau Santos) andava tão apostado em fazer passar as suas convicções anti Governo que quando encontrou o que ele pensava ser uma validação com alguma legitimidade institucional agarrou-se a ela a ponto de colocar um burlão a dizer generalidades num programa de informação "sério".
Por falar nisso, já não ouço falar desse personagem há uns tempos. Talvez tenha tido um rebate de consciência e a pouca vergonha que lhe resta o remeta ao silêncio.
Deus queira que a senhora que entrevista o pdofessod todos os domingos faça o mesmo.
Esperanças...