Há coisas irreversíveis


Há certas coisas que é inútil debater.
Quando essas coisas acontecem só há uma forma de resolver o assunto: Tratar dos danos e seguir em frente.

Uma das coisas que muita gente parece não entender é que foram causados danos irreversíveis ao país.
Simplesmente gastaram dinheiro que tinham e que não tinham a ponto de secar a fonte.

Acredito piamente que a maior parte deste desequilíbrio seja atribuível a corrupção, favorecimento e negligência.
A hipótese em que menos acredito é a última, mas é sabida a forma como se gere dinheiro "público". É como se ele não fosse de ninguém ou aparecesse sempre mais.
Os exemplos de negligência na gestão de dinheiros públicos estão por todo o lado. Ainda assim não se comparam aos milhares de milhões que servem e serviram para engordar empresas do "regime" ou com as fortunas adquiridas de forma meteórica por muito boa gente. Na política são incontáveis os casos de pés rapados que estão colossalmente ricos dez anos depois. Destaca-se a grande altura, obviamente, Sócrates. O pobre homem que viveu em Paris com um empréstimo da Caixa. Mas que praticamente na mesma altura "torra" muito mais do que afirma ter pedido emprestado num Mercedes Classe S.
Dias Loureiro  é outro caso, isto só para não se dizer que os casos estão só de um lado.

Foi nesta situação que Passos encontrou o país. E como manda o bom senso lá disse que não adiantava falar do passado. Era preciso tratar do futuro. Muitos interpretaram isto como uma forma de não culpar o PS de ter arruinado o país. Eu interpretei isso como um gesto de realismo. Tratar dos feridos, enterrar os mortos e seguir em frente. A esponsabilidade existe, mas invocá-la não melhora em nada a situação do país.
Desde esse dia que o PS pensou que se tinha "safado". O passado não importava.
Mas não é possível fazer tábua rasa de tudo o que foi a sua actividade Governativa. A coisa é de tal forma impossível que até Teixeira dos Santos que pensava ter-se livrado da responsabilidade dos swaps na entrevista que deu, acaba por ser confrontado com o facto de na documentação de transição não constar nada de significativo acerca do tema. Sobretudo, e isto é realmente importante, não constava nada acerca das condições e natureza dos contratos.
Mais uma vez acredito que Teixeira não fizesse ideia do que as empresas públicas andavam a fazer. O que não é nada lisonjeiro para um ministro das finanças.

Infelizmente Passos lida com uma oposição à esquerda que não só nega responsabilidade no descalabro como outro sector parece estar tão desligado da realidade que até nem queria o dinheiro da Troyka. Ao mesmo tempo que quer aumentos melhoria de condições. Num país em que não havia dinheiro para pagar salários...

A "solução" de Cavaco deixa Seguro perante outra situação irreversível. Se Seguro não aceitar uma solução ficará ligado, tal como Portas, a esta crise. E isso tem custos eleitorais graves.

Resta saber quais os custos que Seguro quer aceitar. Esses, ou os custos de ter de ser realista e enveredar pelo caminho da redução de despesa do Estado.
E as medidas que pressupõem a mudança de estatutos do BCE ou os supostos murros na mesa que daria com a Troyka, bem os pode meter onde lhe convier. Não vão acontecer nem que ele deseje muito.
Portugal está numa situação de comer e calar. Ou... deixar de comer.

É uma encruzilhada complicada esta que Cavaco criou. Mas não deixa de revelar alguma inteligência. Porventura farto de ver o PS a por-se de fora da solução dá-lhe uma escolha: ou isso ou é o problema.

Um líder capaz lidaria com isto airosamente. Um líder capaz nunca se teria enfiado num beco sem saída. Mas Seguro é tudo menos um líder capaz. E a sua perfeita nulidade táctica começa a vir ao de cima.
Depois de Alberto Martins ter dito o que disse ontem, hoje já se assiste a uma suavização do discurso.

Vamos ver o que isto dá. Mas se Seguro não entra no barco agora, pode muito bem não ter barco para entrar em 2014. É que se o PSD e o CDS forem espertos vão explorar esta situação até ao limite. E se a economia recuperar como o fez no ultimo trimestre, Seguro cai pela base.

Isto está a ficar interessante. É nestas alturas que se distinguem os homens dos meninos. E para já Seguro é um menino...