O jornalismo de causas

A forma como vastas franjas da sociedade reagiram à crise da semana passada e a forma como os media reagiram à mesma situação é um bom exemplo de como a maior parte dos órgãos de comunicação está engajada numa campanha de causas e agitação permanente.

Os prejuízos para o país
A forma como se colaram a este argumento e a forma como o intelectualmente árido Seguro o fez, são bem um exemplo de desinformação dos cidadãos.
Quando se diz que a saída de Portas teria provocado um prejuízo de alguns milhares de milhões é absolutamente falso.
Fazer as contas à cotação em bolsa das empresas do PSI 20 no dia da "crise" obtendo o "suposto" prejuízo é obviamente uma falsidade.
A verdade é que a bolsa voltou ao ponto em que estava. Terá havido certamente alguém a vender (por isso os preços baixam), mas o facto de ter subido mostra que a procura regressou a esses títulos. Se dissermos que houve perdas para quem vendeu, teremos de dizer que houve ganhos para quem comprou. Essa é a forma de ser da Bolsa.

Quanto aos juros da dívida soberana estamos perante outra falsidade. Em primeiro lugar a subida deu-se nos mercados secundários. Não foi uma subida de taxas de juro na emissão de dívida soberana. E mesmo que o tivesse sido, Portugal não emitiu dívida pelo que não se pode dizer que isso tenha custado um cêntimo ao país,
E uma análise simples dos juros da dívida a 10 anos mostra o seguinte:

1/7 - 6.39%
2/7 - 6.72%
3/7 - 7.47%
4/7 - 7.27%
5/7 - 7.13%
8/7 - 6.93%
9/7 - 6.73%

Hoje o nível dos juros é praticamente o mesmo de dia 2. No período de uma semana, os efeitos da "crise" deste ponto de vista deixaram de existir. Ainda não vi ninguém escrever num jornal que pelo acordo Passos/Portas Portugal tenha ganho uma série de milhares de milhões de Euros. E se o dissesse seria tão falso como o que disse acerca das "supostas" perdas. Mas o facto é que o disse e já temos uns quantos papagaios a repetir esta argumentação de débeis mentais. Seguro obviamente é um deles. à falta de melhor aconselhamento ou talvez por pura e simples má fé, agarrou este argumento e repetiu-o diversas vezes.
A única pessoa que vi contestar isto preto no branco foi um deputado do CDS (Nuno Magalhães) ontem num debate frente a Zorrinho. Zorrinho que na sua simplicidade intelectual trouxe esse argumento à discussão apenas para ter o seu sorriso jocoso varrido da face pela resposta de Nuno Magalhães.
Zorrinho, que como de costume, fez mais uma das tristes figuras que o caracterizam embarca nestes chavões da imprensa e do líder apenas para ser espezinhado em público.
Aliás Zorrinho tem por nome completo Carlos "Calhau" Zorrinho, tal é o seu nível de indigência intelectual. Não perceber que se está frente alguém inteligente quando se lança uma argumentação destas é o melhor exemplo da sua total inépcia política.

A insistência em soluções alternativas
Após o susto inicial, a imprensa tem-se desdobrado em dar eco a um possível cenário alternativo ao PSD e ao CDS.
A solução de consenso é a favorita dos media. O que é estranho já que mesmo Seguro diz que só será Governo com eleições. Nunca aceitaria ser Governo numa iniciativa presidencial.
E não o faz porque o PS quer estar fora, na posição cómoda de criticar gratuitamente tudo o que o Governo possa fazer. Se for eleito fará o mesmo mas já está eleito. E o argumento dos 4 anos que agora tanto contesta servirá para invocar a sua legitimidade.

O que estranho é o facto de a imprensa tanto insistir neste ponto dizendo que a coligação já tem mácula e a sua "fraqueza" é irreversível.
A argumentação é completamente contraditória, confusa e infundada. A ideia é atirar para as mentes das pessoas a impossibilidade de funcionamento desta solução logo à partida, como se fosse impossível em qualquer circunstância que as coisas funcionassem.
E isso serve obviamente os desígnios do PS rumo a eleições antecipadas.
É que temos apenas duas chances:
1. Governo de coligação
2. Governo de iniciativa presidencial
3. Eleições.

Destruindo a primeira hipótese, seria facílimo destruir a segunda, já um governo assim teria de ser tão ou mais impopular do que este, com a agravante de não ter a "legitimidade" do voto. Passado este último obstáculo restariam apenas eleições.

O problema mais grave de tudo isto é que o PS não quer de forma nenhuma ser eleito antes de que o Governo se auto destrua e lhe dê uma maioria absoluta de mão beijada.
Coisa que duvido muito que possa acontecer. Não só pela memória que Sócrates deixou da 1ª maioria absoluta do PS como pelo facto de esta liderança do PS e as suas hostes serem apenas um alinhamento de socratistas abjectos e um grupo de apoiantes de um líder fraco e incompetente. A confiança que os cidadãos têm nas capacidades de Seguro ficou bem patente nesta semana que passou. Seguro é visto como uma perfeita calamidade.
De todos os "bonecos" do Contra Poder é talvez o mais gozado de todos os personagens políticos.

Mas mesmo assim não se assiste na TV ao mesmo tipo de "bocas" suezes com que muitas vezes são presenteados os membros da coligação. Apesar de ser por demais evidente a inadequação e incapacidade de Seguro, a imprensa age como se o que ele tivesse para dizer fosse relevante ou inteligente. A não ser quando Costa ameaçou a sua posição, nunca mais Seguro foi posto a ridículo na televisões.
Balsemão sonha com a possibilidade da RTP ficar nas mãos do Estado e não lhe fazer concorrência, a RTP sonha em manter-se a viver do erário público e a TVI alterna entre o anti poder e o lamber botas ao poder. Convenientemente expurgada dos elementos mais críticos da sua gestão vai apenas gerindo as suas audiências com programas de imbecilização geral do país.

Mesmo jornalistas que tinham uma certa aura de rigor e saber não conseguem deixar de passar uma imagem de total ignorância e superficialidade. Judite de Sousa é atroz no programa com Medina Carreira. A sua falta de conhecimento, o papel de garota que debita uns disparates apenas para ser constantemente corrigida por Medina Carreira é um espectáculo pavoroso. Mas ao menos mostra as fatiotas, os sapatos novos e o hair style da moda. Parece ser a única coisa para que ela está ali. Fora isso... zero.
Tem de ser penoso para Medina Carreira estar frente a uma jornalista com dezenas de anos de "carreira" que sabe tão pouco dos assuntos que fala. Para Medina corrigi-la sem ser grosseiro deve ser um exercício de auto controlo fora do normal.

E assim vamos andando com uma comunicação social completamente sequestrada por agendas políticas pessoais, ânsias de promoção pessoal e serviço a uma causa falida e criminosa.
As pessoas que julgam andar informadas nunca andaram tão mal informadas como agora. Distinguir a realidade da ficção tornou-se uma tarefa quase impossível para muitos. Mesmo assim não conseguem dar completamente a volta a uma ideia generalizada de incapacidade total do PS em gerir de novo este país.
É para vermos até onde o PS conseguiu descer. É obra...