A carta

Há certas linhas que não se devem cruzar.
Uma delas é dizer que se aceita a democracia e passado algum tempo estar a pedir, com cartas e abaixo assinados, que um governo maioritário do partido mais votado nas eleições se demita.

Pode falar-se nisso nos habituais espaços de comentário. Pode falar-se disso nas conversas de café. Mas cruzar essa barreira quando se é um actor privilegiado do sistema político durante toda a vida demonstra de uma forma muito clara um profundo desrespeito pelas regras que se jurou cumprir.

Da mesma maneira que Soares e amigos não gostam da actuação deste governo, muitos portugueses abominavam a forma como Sócrates geriu este país durante dois governos. Mas, tinha sido democraticamente eleito e esse respeito é algo que não se pode simplesmente esquecer.

Quando 70 "personalidades" fazem uma carta a pedir a demissão de um governo eleito democraticamente alguma coisa vai mal.
E vai ainda pior quando sabemos que a este governo calhou a fatalidade de tentar por direito o que o anterior fez e tudo aquilo que os anteriores não fizeram.
É a demonstração cabal de que Portugal nunca será um país ao nível dos mais desenvolvidos da Europa ou do mundo por causa do povo que tem e sobretudo por causa da miserável classe política que tem.

Muitos dos signatários desta carta são personalidades que tiveram altas responsabilidades na gestão do país. Todos e cada um deles colocou um ou mais pregos no caixão deste Portugal.
Ou ou acção ou por omissão são co-responsáveis pelo descalabro a que o pais chegou.

Escondem-se atrás de "princípios" elevados para defender este tipo de coisas alheando-se completamente das consequências. Mas para se ter princípios tão nobres é preciso que estejamos nós dispostos a fazer sacrifícios. Ora neste caso a defesa dos princípios significaria que todos nós teríamos de fazer ainda mais sacrifícios do que estamos a fazer.

A importância desta "carta" é relativa. Não estamos a falar de gente equidistante dos partidos. Estamos a falar em grade medida de gente que anda há anos a viver do Estado em dar grandes contributos ao mesmo.

Mário Soares
Não há muito que se possa dizer deste homem que não seja já conhecido. Desde a forma como conduziu um processo de descolonização que deixou centenas de milhar de portugueses na miséria até à gestão de um país que o colocou na posição de pedinte duas vezes, não é grande currículo para apontar o dedo a ninguém.

A carta é subscrita por um conjunto de inúteis dignos de figurar no Hall of Fame. Desde o imbecil do Vitor Ramalho, passando por Rosas, Inês de Medeiros apenas relevante por ser filha de quem é, acabando por Pilar del Rio...
Mas que ajuntamento. Parecem escolhidos a dedo. É como se tivesse rebentado o cano de esgoto e de repente tivéssemos uma enxurrada de porcaria onde não a queríamos.

Tivesse esta gente contribuído com trabalho para que o país fosse alguma coisa e não estaríamos hoje no estado em que estamos.

Não há dúvida que mesmo os "intelectuais" se conseguem cobrir de ridículo de forma ímpar.