Nós somos responsáveis pela nossa extinção
Acabei de a ver num blog que visito frequentemente (Palvrossaurus Rex) e sensação que tive de manhã repetiu-se. É daquelas coisas que nos provocam lágrimas e um aperto na garganta.
Mas não seremos nós responsáveis por coisas como esta? Por momentos, ou vidas inteiras de terror, fome e miséria?
Somos. E somos porque como sociedade consumista em que nos tornamos, incentivamos as empresas a migrar para sitíos como este à procura de mão de obra miserável. à procura de gente "dispensável".
Enquanto a nossa sanha consumista quiser comprar o "novo" e o "último" pelo mais baixo preço possível, estas coisas acontecerão. Na Índia, Bangladesh, China, Vietnam ou outro país qualquer onde o respeito pelas pessoas seja inexistente.
Onde um exército de miseráveis enriquece empresários sem escrúpulos e acaba por enriquecer os accionistas de grandes empresas mundiais.
A Apple, Mango, Nike, Indetex etc etc deslocalizaram para estes países a sua produção. Sentimos um abaixamento de preço é certo. Mas a verdade é que estas empresas sentiram uma subida fenomenal no lucro. Porque se livraram de mão de obra "cara" nos seus países de origem colocando-a numa situação de miséria e a foram encontrar nestes países em que as pessoas trabalham de sol a sol em troca de um salário que para nós não daria para sobreviver um dia.
A globalização é o fenómeno das sociedades de consumo "modernas". Que têm a ilusão de que vão manter o seu poder de compra, mesmo quando a deslocalização dos seus empregos é feita para países como este. De que serve ter roupa mais barata ou gadgets fantásticos se quem os deveria comprar perdeu o emprego e não tem qualquer rendimento?
Quanto tempo levará até que a Europa e os Estados Unidos percebam que acabarão com empresas fabulosamente ricas que não vão ter ninguém a quem vender o que produzem? Quanto tempo será preciso para que estes países exijam que os produtos fabricados pelas suas empresas nestes paraísos de escravatura, observem o mesmo respeito pelo trabalhador, pelo ambiente e pelo mais básico da condição humana?
Nenhum país ocidental pode competir com este tipo de custos. Não se pode competir com o custo num país em que a morte de 800 pessoas pela derrocada da miserável fábrica onde trabalhavam é apenas um episódio num continente em grande medida miserável.
Este tipo de coisas serve apenas um restrito grupo que tem lucros fabulosos à custa de mão de obra em países onde um restritíssimo grupo vive na opulência à custa de horrores como o do Bangladesh.
Ainda não ouvi ninguém a por em causa este modelo. Ninguém. Nem nas altas instâncias europeias nem nos EUA. Obama na sua primeira campanha falou disto timidamente. Rapidamente o calaram. Os lucros fabulosos de empresas como a IBM ou a Apple são feitos à custa de trabalho na China e na Ìndia pago a uma mísera fracção do que pagaria num país desenvolvido. Onde acabam com mão de obra qualificada no desemprego. Pela ganância do lucro.
A ganância do lucro é isto. A morte de 800 pessoas porque a fábrica lhes caiu em cima.
Se isto não é exploração mais infame da miséria com a mira do lucro grande e fácil, não sei o que será. É o capitalismo no seu pior, espalhando miséria e morte.
Mas a maior parte de nós parece conviver bem com isso. Desde que quem morra o faça longe e desde que vá havendo dinheiro para a roupinha da moda ou o gadget de último modelo.
Somos nós que nos vamos extinguir pela nossa própria estupidez ou pela nossa inação. Escolham uma delas.