Um diletante
Um belo dia alguém lhe achou muita graça, achou que ele era um personagem a quem se devia dar algum crédito e passados alguns anos converte-se numa espécie de guru de tudo e mais alguma coisa.
Sem grandes méritos profissionais conhecidos, tornou-se mais famoso pelo discurso desbragado do que por outra coisa qualquer.
Consta que foi advogado, medíocre segundo a sua própria avaliação, e depois passou a "jornalista". Mais recentemente começou a escrever "umas coisas" e considera-se um autor. Um produtor de literatura.
Li um livro dele (O Rio das Flores) e confesso que o achei duma ligeireza e dum anacronismo difícil de engolir. É daqueles livros que li duma ponta à outra e não consegui por uma cara num personagem nem uma imagem num local. As descrições de MST são de tal forma superficiais que parece que estamos a olhar para uma folha de papel com meia dúzia de rabiscos. Shallow, very very shallow
À data não sabia da crítica que Pulido Valente tinha feito ao seu primeiro livro (Equador) mas quando li não pude senão concordar com Pulido Valente. Quando li a crítica de O Rio das Flores foi como se PV estivesse dentro da minha cabeça a passar a palavras aquilo que eu não consigo. A precisão da sua crítica é notável.
A literatura de Sousa Tavares é na melhor das hipóteses, medíocre. E como acontece quase sempre nestes casos o marketing consegue sobrepor-se a qualquer outra coisa. Afinal as pessoas compram antes de saber a porcaria que estão a comprar. Foi o meu caso. É de esperar portanto que nunca mais compre um livro escrito por ele.
Mas creio que é o sucesso da sua produção que o tem levado nestes últimos 4 ou 5 anos a convencer-se que é uma pessoa relevante no grande esquema nacional e que se pode permitir dizer o que lhe vem à cabeça, por muito ridículo que seja.
O único problema de Sousa Tavares é que quando aponta o dedo fá-lo de uma forma bastante "parcial", para ser delicado.
Quando fala do pântano de corrupção e de imobilismo do país esquece-se quase sempre de um grupo que é tão ou mais responsável do que qualquer outro pelo estado do país. As sua apreciações sobre as "coisas da justiça" estão incrivelmente ao nível de Marinho Pinto. O que me leva a pensar que o seu abandono da carreira de advogado foi a melhor coisa que podia ter decidido fazer.
São normalmente muito pouco informadas com algumas passagens profundamente ignorantes, imbuídas de uma má fé e um ódio especial à magistratura. Coisa que lhe deve vir dos tempos em que exerceu e em que segundo ele terá mandado um juíz à merda.
Igual ressabiamento ao de Marinho Pinto seguramente.
Mas o problema de Sousa Tavares é o pensar que se tornou num personagem a quem tudo é permitido. Em alguém intocável pela sua exposição mediática. E isso causa ainda maior exposição mediática.
Não há nada que um jornalista goste mais do que um tipo desbocado. Aquilo a que chamam no meio de "frontalidade".
Desta vez Sousa Tavares pode ter ido longe demais. No Jornal de Negócios chamou Cavaco Silva de "palhaço". Isto em resposta a uma pergunta sobre Beppe Grillo.
O problema é que este tipo de coisas pode ser considerado crime de injúria ou difamação e punível com pena de prisão de 6 meses até 3 anos e multa não inferior a 60 dias.
Não só a produção de Sousa Tavares é duma mediocridade notável, como o seu discernimento parece ter vindo a degradar-se ao ponto de chegar a ser igualmente medíocre.
Sousa Tavares tem-se em grande conta. Disso não há dúvida. E ficamos a saber que estará num escalão de rendimentos elevado, já que afirma que "Gaspar" lhe fica com 53% do que ganha, o que me leva a pensar que a sua estratégia tem funcionado. Pelo menos do ponto de vista material.
Não é em vão que ele aparece na TV a fazer o papel de "paineleiro" e que a sua escrita acaba por ter uma promoção maior por esse facto. Assim, proveitos de um lado e de outro.
E uma pessoa nestas condições pode bem chegar a um ponto em que atribui isto ao seu valor. À relevância do que diz ou escreve.
Na verdade MST é um diletante confortavelmente instalado na vida e com um pendor marcadamente pro PS. Isso garante-lhe que, em períodos em que o dito partido tem estado no poder, goza de uma abundância de oportunidades de "trabalho" que dificilmente teria se não o fosse.
Talvez fosse bom que alguém lhe dissesse que a instabilidade que demonstra pode ser resultado de algum distúrbio a necessitar atenção. Ou que o abuso de álcool e de outras substâncias acaba por causar danos irreversíveis. A falta de contenção pode certamente ser um deles.
Actualização : MST admite agora que "pode ter ido longe demais". Não sei se é um rebate de consciência ou se é a consciência do embate. É que o risco de 6 meses a 3 anos (nunca ninguém lhe aplicaria prisão efectiva) e o mínimo de 60 dias de multa e o apontamento no cadastro criminal não são brincadeiras menores.
Como até hoje MST sempre chamou tudo a todos e saiu impune, talvez tivesse ficado com a noção errada que podia "ir longe demais".
A diferença entre alguém frontal e alguém simplesmente "desbragado" é que o primeiro raramente recorre ao insulto. No caso do segundo, isso é constante. Aliás o simples facto de ter MST a "classificar" as decisões e acções de outros é já de si insultuoso, uma vez que ele não estará seguramente em posição de apontar o dedo a ninguém que no que diz respeito a trabalho ou vida pessoal. Deve haver pouca gente com o grau de instabilidade e maus exemplos de MST. No entanto é a ele que convidam para "painelar". Em troca de dinheiro. Talvez porque esperem que um dos seus espalhanços se torne notícia. Desta vez coube ao Jornal de Negócios mas não tarda muito calhará a outro qualquer. MST gives and keeps on giving. Never fails to make an ass of himself.