A imprensa que temos, ou melhor, a imprensa que não temos
Hoje Vitor Gaspar foi ao parlamento. E do que disse ressalta que a informação sobre os contratos de swap era muito reduzida e de carácter processual. Ou seja, a quantificação de valores e perdas potenciais era algo que não foi passado a este governo na data de transição.
Nada que não esperássemos e nada que não tivesse já sido confirmado.De pouco adianta saber que há uns swaps e que são pedidos relatórios sobre os mesmos se não se souber mais nada acerca do assunto. O que interessa realmente é saber de ganhos e perdas nesses mesmos contratos. Sobretudo quando alguns deles podem ser uma bomba relégio.
A oposição insiste sempre nos mesmos temas. A "mentira" a "demissão" e todo o cardápio necessário para afastar de si a responsabilidade pela contratação dos mesmos e sobretudo da mais que deficiente gestão do processo quer por parte da tutela quer por parte das empresas contratantes.
A mesma notícia em dois jornais e em linhas gerais muito semelhante com destaque para o Público por ter ido mais longe na transcrição de algumas afirmações de Gaspar que são da maior importância.
A informação fornecida era de apenas duas páginas A4 e insuficiente.
De realçar que apenas por imposição da Troyka seria feito (no futuro) um relatório sobre o caso e que a informação que constava da dita pasta era meramente processual.
Saber de perdas potenciais, tipos de contrato, prazos e coisas verdadeiramente importantes só se veio a saber depois de este Governo estar em funções.
Mas o Expresso opta por fazer um título a todos os títulos enganador, enquento que o título do Público é bastante mais claro relativamente ao tio de informação prestada.
Juntando os dois títulos:
Gaspar diz que atual ministra estava "de longa data informada" sobre os 'swaps' mas o “valor acrescentado” da informação sobre swaps era “reduzidíssimo”
Consegue percebe-se perfeitamente até que ponto é manipulativo o título do Expresso. A ideia que querem reforçar é que a Ministra sabia, logo teria mentido ao passo que no caso do Público a ideia que passa é que a informação prestada era insuficiente.
Mais grave é que mesmo na transcrição do Expresso das palavras de Gaspar são omitidas algumas coisas relevantes.
Ainda assim, podiam simplesmente escrever algumas das coisas que Vitor Gaspar disse, nomeadamente o desconhecimento da dimensão do problema porque a pasta não continha informação que permitisse perceber com rigor o montante de perdas potenciais em causa.
Expresso
Gaspar diz que atual ministra estava "de longa data informada" sobre os 'swaps'
Maria Luís Albuquerque conhecia "em profundidade" a questão e "geriu de forma exemplar" a recolha de mais informação, segundo afirma o ex-ministro das Finanças.
Alexandre Costa
10:32 Terça feira, 30 de julho de 2013
João Relvas/Lusa
"Discutimos certamente esta matéria em profundidade (...) (a ex-secretária de Estado do Tesouro e atual ministra das Finanças) estava de longa data informada" sobre os contratos swap, afirmou hoje Vítor Gaspar, respondendo às questões colocadas pela comissão da Assembleia da República.
Por outro lado, o ex-ministro das Finanças, referindo mais adiante a complexidade e implicações das cláusulas dos contratos, disse que a informação mais completa e detalhada só foi recebida pelo Governo mais recentemente.
Vítor Gaspar considerou que a questão central era do domínio público quando o Governo tomou posse, mas que foi necessário um grande trabalho de recolha de informação suplementar, nomeadamente de informação jurídica, uma tarefa que Maria Luís Albuquerque "geriu de forma exemplar".
A informação disponibilizada pelo anterior Governo, "não é no entanto a informação concreta e quantificada de riscos económicos e financeiros e de aspetos jurídicos que permitem as opções políticas. Se essa infomação sistemática existisse na altura da tomada de posse, teria sido possível atuar mais rapidamente", afirmou.
Perante a acusação do deputado do PS, João Galamba, de que Albuquerque teria travado o processo em curso sobre os swap, Gaspar disse que o "processo nunca foi parado, esteve sempre em progresso".
Na declaração introdutória que efetuou perante a comissão de inquérito sobre os contratos swap, o ex-ministro disse que "este Governo encontrou um problema criado pelo anterior Governo, por um conjunto de contratos que em vez de reduzir o risco o multiplicaram".
Vítor Gaspar afirmou mesmo ter encontrado um "padrão de comportamento" existente "pelo menos nos últimos 15 anos", defendendo por outro lado que tudo fizeram para "amenizar as consequências e evitar" a repetição de contratos swap altamente lesivos para o Estado.
PúblicoEstou um pouco surpreendido. Não muito. Desde há bastante tempo que o Expresso deixo de ser comprado cá em casa. Nem para acender a lareira e o churrasco. Arranja-se melhor e mais barato. Mas pensava que o tão propalado rigor e profissionalismo levasse o Expresso a ser mais sério. Noto que se degradou ainda mais desde que decidi deixar de o comprar.
Gaspar: “valor acrescentado” da informação sobre swaps era “reduzidíssimo”
Pedro Crisóstomo
30/07/2013 - 13:09 (actualizado às 4:33)
Ex-ministro defende Maria Luís Albuquerque, garantindo que a afirmação da governante sobre a transição de pastas em 2011 corresponde à verdade.
O ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar reafirmou nesta terça-feira que o tema dos contratos swap foi abordado em Junho de 2011 na transição de pastas com o anterior tutelar da pasta das Finanças, mas garantiu que a informação que recebeu de Fernando Teixeira dos Santos foi reduzida, de domínio público e sem detalhe sobre a natureza dos riscos associados aos contratos celebrados por empresas públicas.
Gaspar foi ouvido esta manhã no Parlamento na comissão de inquérito aos contratos de gestão de risco financeiro, onde afirmou ter sido ele a suscitar o tema dos contratos celebrados por empresas públicas, colocando a questão a Teixeira dos Santos (a 18 de Junho).“A questão foi motivada por uma pergunta da minha parte, tendo, de acordo com a minha melhor recordação, sido referido pelo professor Teixeira dos Santos que o assunto seria tratado” na reunião a seguir, que aconteceu dois dias depois. Nesse segundo encontro (quando Maria Luís Albuquerque ainda não fora nomeada secretária de Estado), a informação passada “terá sido profundamente processual”, acrescentou.
O ex-ministro das Finanças afirmou que o actual Governo recebeu um “dossier físico detalhado” sobre as medidas do programa de ajustamento negociadas com a troika, mas ressalvou que a ficha (desse documento) que se referia aos contratos swap não continha “qualquer informação específica” sobre os riscos associados “e como eles se poderiam materializar”.
Para Vítor Gaspar, a ficha – que Teixeira dos Santos já mostrara quando foi ao Parlamento prestar esclarecimentos– dizia respeito apenas a procedimentos globais e genéricos para dar seguimento a esta matéria no quadro do programa da troika. Por isso, o “valor acrescentado” da informação era “reduzidíssimo”, afirmou, dizendo que coube ao actual Governo avançar com os trabalhos sobre a avaliação dos contratos.
A ficha em causa (duas páginas A4) faz referência a um dos pontos do Memorando de Entendimento, para a elaboração de um relatório pela Direcção-Geral do Tesouro e Finanças que analisaria o “risco orçamental detalhado” e “todas as responsabilidades (explícitas e implícitas) das empresas públicas”.
Ex-ministro elogia sucessora
Gaspar procurou, durante a audição parlamentar, defender a actual ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que enquanto sua secretária de Estado do Tesouro afirmou no Parlamento a 25 de Junho que “na transição de pastas nada foi referido a respeito desta matéria”.
Ouvindo o deputado socialista João Galamba acusar Maria Luís Albuquerque de mentir no Parlamento, Gaspar rejeitou a interpretação dada pelo PS – e a restante oposição – às declarações da actual ministra das Finanças (que esta tarde volta a ser ouvida na comissão de inquérito).
Gaspar insistiu que a questão dos swaps foi suscitada, mas não abordada em detalhe com o anterior Governo nas reuniões de 18 e 20 de Junho de 2011, antes de Maria Luís Albuquerque e os restantes secretários de Estado tomarem posse. A governante “não esteve presente na minha reunião com Teixeira dos Santos, nem na reunião que se seguiu com os secretários de Estado”, garantiu Vítor Gaspar.
“A única interpretação que me parece razoável (…) é que nada [de específico] lhe foi referido na pasta de transição e essa afirmação [no Parlamento a 25 de Junho] corresponde exactamente à verdade, tal como foi reportado”, disse.
Gaspar recordou ainda indirectamente o facto de Maria Luís Albuquerque ter sido directora financeira da Refer entre 2001 e 2007 (altura em que foram celebrados contratos de derivados financeiros), para argumentar que a governante conhecia a questão dos swaps “na sua generalidade” e que o que estava em causa não era esse conhecimento genérico, mas as situações concretas. “Não só não desconhecia, como a conhecia bem. E é uma pessoa que pode ser considerada perita nesta matéria. Colocar a questão sobre se tinha conhecimento geral é simplesmente ridículo, não faz qualquer sentido”.
Os deputados da oposição acusaram, por outro lado, a actual ministra das Finanças de esconder que teve conhecimento da questão dos swaps, referindo-se a uma troca de emails entre Maria Luís Albuquerque e o ex-director-geral do Tesouro e Finanças Pedro Felício em Junho e Julho de 2011. Em causa estão emails indicando uma perda potencial de 1500 milhões de euros para o Estado associadas aos contratos celebrados pelas empresas públicas. A informação foi já classificada por Albuquerque numa entrevista à SIC como insuficiente para detectar toda a dimensão do problema.