A podridão dos hábitos políticos

Uma frase lapidar de Rui Machete.
E que o caracteriza muito.
Advogado de formação e esbanjador por deformação.

Anda na política activa desde o 25 de Abril. Já foi ministro, secretário de estado, administrador, presidente de fundação e todos os cargos bem remunerados e cheios de mordomias que alguém pode imaginar.

É quase divertido chamarem-lhe senador. A ele e a Mário Soares. Outro que nunca precisou de lições de ninguém acerca de como esbanjar dinheiro que não é seu. O qiue me leva a concluir que o título de senador é dado neste país a uma espécie de homem que desde há quase 40 anos vive refasteladamente saltitando de lugar em lugar, fazendo fortuna e nunca tendo responsabilidade de nada.

Rui Machete também não tem. Nada tem a ver com o que se passava na SLN, nem sequer acha que foi um esbanjador vergonhoso na FLAD. Ele só é responsável pelos sucessos. Entre os quais brilha a grande altura a valorização da coleção de arte que comprou para a fundação uma parte da qual estava no seu gabinete.
E é curioso como se tenta pintar a coisa como se fosse uma má vontade dos embaixadores. A vontade de se livrarem de alguém que se comportava como um reizinho usando dinheiros da fundação em proveito próprio ficou bem patente nalgumas das comunicações reveladas pelo WikiLeaks.
Será que o que levou esses embaixadores (mais do que um) a quererem livrar-se de Machete foi uma cabala orquestrada entre eles ou o simples facto de ele usar recursos da fundação em proveito próprio e dos amigos? Há algo que me leva a acreditar mais nos embaixadores do que em Rui Machete. Parecem-me dignos de maior crédito. Sobretudo porque foram mais que um a constatar a forma como a fundação era gerida.

Mas com isto tudo tem curriculo. Nada melhor para um esbanjador do que encontrar-lhe um lugar adequado.
As viagens em representação do Estado, as recepções onde irá provavelmente encontrar embaixadores que nutrem por ele um profundo desprezo, e a vida na alta roda são sem dúvida um lugar condigno para este "senador".

Ele é sem dúvida nenhuma um símbolo daquilo que o regime tem de podre. É uma cara demasiado ligada a nepotismo, esbanjamento e abusos para ser sequer considerado para Ministro.
E este Governo perde muito ao ceder ao "aparelho" numa vã tentativa de apaziguar os barões e baronetes.

Machete faz parte do PSD podre, corporizado por Capuchos e outras eminências pardas do partido.
O Capucho das 3 "negas" nem sequer conseguia hoje disfarçar o despeito pela nomeação do "amigo de há muitos anos". Outro "senador". Este sem dúvida o "senador" despeitado que nem a presidente da Cruz Vermelha consegui chegar por nomeação do governo do partido.

Era este PSD que eu ansiava ver varrido do mapa por Passos Coelho. É este PSD  que mais uma vez ganha a batalha da perpetuação na gamela do poder.

O governo também cede ao CDS e retira o ministro que talvez tenha feito mais pelo país nestes últimos 2 anos. Um homem despretencioso, imaginativo e frontal. Que escrevia o que pensava no seu blog (que eu anseio voltar a ler depois deste interregno de 2 anos). Quanto a Santos Pereira não existe qualquer dúvida acerca do seu afastamento de lobbies e grupos de pressão.
Por isso foi sempre um alvo. Não foi um alvo fácil, mas esteve sempre na mira dos que de dentro e fora do partido o viam como um empecilho, como um outsider que urgia abater.

É substituído por Pires de Lima. O mesmo Pires de Lima tão por dentro das questões económicas que conseguiu estar no programa do inenarrável Nicolau Santos com o "vigarista da ONU" e não conseguiu rebater com um número real que fosse as baboseiras infindáveis de Nicolau e do impostor.

E é este o novo ministro da economia.
Um empresário que conseguiu sucesso a vender Super Bock.
Eu diria que qualquer indivíduo com meio cérebro e com uma equipa que não seja composta por imbecis consegue fazer sucesso a vender cerveja.
Junte-se a isso a promoção desmesurada junto das camadas jovens com os festivais e com as festas académicas e aí temos a receita para o sucesso.
Fosse o álcool uma substância maldita como o tabaco e eu queria ver o sucesso de Pires de Lima no mundo dos negócios.
Não foi tão eficaz assim na Compal. Pioneira dos sumos naturais e vencedora de inúmeros prémios internacionais acabou por ser vendida à Sumolis que só começou com o negócio dos néctares no início dos anos 90. Ou seja com umas boas décadas de atraso em relação à Compal.
Foi incapaz de resistir à concorrência  de uma recém chegada na mesma franja de produto. Foi incapaz de sair do mesmo tom quando encontrou concorrência. Isto não me parece um bom exemplo de gestão sob nenhum ponto de vista.
Antes da cervejola não me parece que Pires de Lima fosse mais que um "gestor" mediano. Com a cervejola passou a outro patamar. E esse patamar parece-me perfeitamente conjuntural e completamente independente da sua "genial" gestão. Até 2012 os valores de consumo por habitante por ano chegaram a uns impressionantes 61 litros por habitante em 2008.
Estão em queda com a crise mas em 1992 o valor era de 50 litros. Um aumento de consumo de um pouco mais de 20% em 16 anos (até 2008). Não admira portanto que se possa dizer que Pires de Lima teve "sucesso". Resta saber quanto é mérito dele e resta saber se existe algum mérito em ter o seu sucesso associado ao consumo de álccol.
Seria interessante ver o sucesso de Pires de Lima como empresário a tirar uma empresa do buraco ou a tornar o Estado eficiente em termos de custos.
Parece-me que Pires de Lima não passa de uma daquelas fraudes clássicas.
Um belo dia começam a dizer que ele é muito bom e passado algum tempo todos o repetem.
Tal como se passou com António Vitorino que todos diziam ser um comissário Europeu fabuloso mas ninguém sabia ao certo quais eram as suas competências ou o resultado da sua passagem pela comissão.
Mais um caso do "dizem que é bom".
Vai entrar, vai sair e vamos ficar sem saber o que conseguiu ser feito. Estou bastante seguro de que não atacará os sectores que têm delapidado os consumidores e o país desde há muitos anos.

Mas tirar Santos Pereira da pasta da Economia para meter mais um como este, por ser supostamente um fabuloso empresário, parece-me um bocado demais.